Hoje teremos dois jogos com adversários trocados. França x Nigéria, na Arena Mané Garrincha de Brasília, às 13h00, e em Porto Alegre, na Arena Beira-Rio, às 17 horas, Alemanha x Argélia. Por sorte os deuses do futebol são pacíficos. Não quiseram ver novamente os argelinos travando com os franceses mais uma de suas históricas batalhas, agora substituindo as botas pelas chuteiras.

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Não se pode cravar o resultado – pois nesta Copa no Brasil o inesperado não se cansa de nos fazer surpresas -, mas a Alemanha deve ganhar da Argélia com uma boa folga. Ganhando ou perdendo, entretanto, uma coisa é certa: os argelinos devem repetir em Porto Alegre a mesma festa que fizeram em Curitiba. Com a diferença que, aqui, os torcedores argelinos – mesmo sem saber a razão – tiveram motivos históricos para confraternizar com os curitibanos e curitibanas, como se estivessem visitando a casa de parentes distantes.

Poucos sabem, infelizmente, que se chamava Colônia Argelina uma grande parte do que é hoje o bairro do Bacacheri. Espraiando-se pela Boa Vista , toda aquela região Norte de Curitiba foi o primeiro núcleo colonial de imigrantes, dos tantos que aqui foram instalados a partir de 1870. A Colônia Argelina obedecia o plano do presidente da Província Adolfo Lamenha Lins, baseado no estabelecimento de colônias agrícolas na periferia da cidade com o objetivo de aproximar a produção do mercado consumidor.

Nos ensina o livro “Os franceses do Paraná”, de Maria Thereza Brito de Lacerda e Maí Nascimento Mendonça, que “o nome da colônia, Argelina, se deve ao fato de lhe darem vida 117 imigrantes, dos quais a maior parte, 39, era de franceses da Argélia (ou os pieds noirs, pé negros). Havia 36 alemães, 24 suíços, 10 suecos e oito ingleses, tendo vindo posteriormente cinco escoceses”. A localização da Colônia Argelina era privilegiada, nas duas margens da Estrada da Graciosa e a quatro quilômetros de distância de Curitiba.

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Dos falares atravessados desses imigrantes argelinos (que ainda hoje falam os idiomas árabe e francês) seria a origem do nome Bacacheri, diz a lenda: um daqueles argelinos era o feliz proprietário o proprietário de uma vaca que tinha o nome de Chérie (querida, em francês). Certo dia a vaca desapareceu – ou foi pro brejo – e o dono saiu à sua procura, indagando se por acaso não viram sua “Vaca Chèrie”. O sotaque do argelino transformou a vaca em “baca” e o “Chérie” em cheri, dando origem à expressão “baca cheri”. O nosso valoroso Bacacheri.

Graças aos argelinos surgiu ainda o “Burro Brabo”, histórico casarão do Bacacheri que em priscas eras ficou conhecido como “Casa das Francesas”.  De um concorrido armazém de secos e molhados, passou a ser lugar de damas da noite, muitas delas francesas. O “Burro Brabo” da Colônia Argelina foi primeiro bordel de Curitiba, onde os viajantes que iam e vinham da Serra da Graciosa se abasteciam de beijos e abraços.  

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Talvez tenha vindo do “Burro Brabo” a inspiração que levou tantos argelinos a festejar a classificação contra a Rússia numa noitada inesquecível na Rua Cruz Machado, com pausa para reabastecimento no Gato Preto.