Aquele velho conhecido!

O que é um lobista? No sentido atualizado da palavra, lobista é o intermediário entre o público e o privado. O facilitador que se encarrega de pagar, inclusive, as contas de eventuais despesas extraconjugais do senador Renan Calheiros.

Lobista vem da palavra inglesa lobbying, deriva do substantivo lobby, cujo significado é antecâmara. A Câmara dos Comuns, na Inglaterra, e o Capitólio, nos Estados Unidos, possuem um amplo e espaçoso hall – o lobby -, que serve de sala de estar. Por extensão, lobyst passou a denominar a pessoa que, nas salas e corredores do poder, amacia os legisladores no trâmite das leis. O mesmo termo se aplica a um grupo de pressão.

No Brasil, lobista se tornou sinônimo de bandalheira, devassidão, sacanice, sacanagem! Na língua portuguesa, aliás, as palavras adquirem significados inesperados. Sacanagem, por exemplo: no dicionário, é nome do salgadinho feito com salsicha, queijo, pepino, etc., espetados num palito. Daí que, nos tempos do laquê e da brilhantina, os pais não deixavam as meninas dançar nas ?festinhas americanas?, onde serviam uísque com guaraná, cuba libre e, para comer, muita ?sacanagem?.

No tempo do rock-n-roll, lobista era, genericamente, um ?conhecido?. Todos tinham um ?conhecido? que resolvia qualquer problema, facilitava as coisas, enfim, ?quebrava o galho?. Bons tempos aqueles, tempos risonhos, francos e ingênuos, até alguém descobrir que aquele ?conhecido? poderia se transformar em ?lobista?, e render muito dinheiro. Fortunas.

É da cultura brasileira, todos nós já contamos com um ?conhecido? para dar um jeitinho. Não faz muito tempo, ninguém comprava um carro novo sem procurar um amigo que tinha um ?conhecido? que era gerente da revendedora de automóveis.

– Procura o meu ?conhecido?, ele vai te fazer um bom desconto!

Não tinha desconto, só o fato de ser recebido por um ?conhecido?, isso já era um bom negócio.

– Estou com um sério problema para resolver! – confidenciava o rapaz para um amigo íntimo – Estou com uma doença venérea!

– Deixa de frescura, você está com gonorréia!

Bons tempos aqueles, nada que uma boa injeção não resolvesse:

– Faz o seguinte: vai na farmácia Minerva e procura meu ?conhecido?. Ele trabalha no turno da noite, ninguém vai ficar sabendo do caso. Esse meu ?conhecido? é da maior confiança!

– Vamos ao cinema? Vai passar

E Deus criou a mulher, com Brigite Bardot!

– Mas nós não temos ainda 18 anos!

– Não tem problema. O porteiro é meu ?conhecido?!

Para trabalhar no serviço público, uma boquinha no governo só através de um ?conhecido? que tinha um ?conhecido? bem ?conhecido? que era ?conhecido? de um conhecido deputado.

Naquele velho Brasil brasileiro, lindo e trigueiro, um bom ?conhecido? era um santo remédio. Além de curar doença venérea, livrava do alistamento militar, conseguia convite para o teatro, providenciava com presteza uma nova carteira de identidade, arrumava namorada e aproximava corações:

– Eu tenho um ?conhecido? que é vizinho dela!.

O ?conhecido? virou ?lobista? quando descobrimos, nos pequenos favores, grandes negócios.

– Estou com uma fatura atrasada do governo e não sei como receber!

– Deixa comigo: tenho um ?conhecido? na Secretaria da Fazenda!

– Vou ficar te devendo esse favor!

– Amigo é pra essas coisas! No Natal você manda um vinho para o meu ?conhecido?.