– Vai ou não vai nevar? – perguntou dona Hilária ao neto, que respondeu ao celular:

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– Neva, não! Por enquanto, neve só na serra gaúcha e catarinense: São Joaquim, Urupema, Urubici e Bom Jardim da Serra.

Hilária, que não só de nome é uma graça, insistiu:

– E aqui em General Carneiro, neva ou não neva?

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– Acabei de consultar o Simepar! – respondeu o neto: em General Carneiro o tempo é nublado com chuva, a mínima é de 1 grau.

Para dona Hilária, um grau positivo só serve para tomar sopa de cebola. Ou um goulash bem temperado. 

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– Lamentável, mais uma vez vamos perder para os catarinas! E em Palmas, nossa última esperança?

Do Terceiro Planalto paranaense o Simepar também não traz boas novas para dona Hilária. Com friagem semelhante a General Carneiro, para sexta-feira o termômetro promete menos um grau, com sol e muitas nuvens, o que vai trazer felicidade para os vendedores de gorros, luvas e cachecóis, menos para a esperançosa dona Hilária.

– Se não vai nevar no Paraná, meu querido, vamos para Santa Catarina que eu não quero morrer sem antes ver pela janela a neve caindo. Mas antes de passar aqui em casa, vai numa lojinha comprar filmes pra minha Kodak!
– Vovó, agora as máquinas são digitais, não precisam mais de filmes.

– Mas a minha precisa, e eu não quero ser pega desprevenida como aconteceu na neve de 1975: venderam todos os filmes e eu não consegui fotografar a volta do teu avô fazendo um boneco de neve.

Para dona Hilária, que não só de nome é uma graça, o dia 17 de julho de 1975 está marcado como uma cicatriz no encardido calendário ainda hoje pendurado na porta da cozinha. Saudade daquele Curitiba branca de neve.
– Será que vai nevar? – insistiu a esperançosa, antes de embarcar no carro do neto. Andaram duas quadras e dona Hilária mandou o neto dar meia volta.

– Vamos voltar pra casa, ligeirinho! Esqueci a blusa amarela de 1975. Sem a sorte da minha velha blusa amarela, adeus neve!