Apelo de oração

Recebi e passo adiante uma corrente de solidariedade a uma família desesperada e de mãos atadas frente a um adversário que bem conhecemos: o despreparo do poder público para enfrentar uma epidemia que se mostra traiçoeira com as instituições de saúde e os próprios médicos. “Estimados amigos”, assim começa o lamento da família G.

“A finalidade desta é repassar-lhes a real situação de minha sobrinha e também algumas informações que obtivemos em relação ao vírus da gripe H1N1. Minha sobrinha N. encontra-se no isolamento da UTI juntamente com outra moça da mesma faixa etária dela. As duas encontram-se em coma induzido, sedadas e entubadas. N. está com as funções renais comprometidas. Segundo o boletim médico que nos foi passado, o único remédio que ela precisa agora, além dos medicamentos, é de oração.

Agora pasmem, estimados amigos: nos dirigimos à direção do hospital munidos de todos os exames de que dispúnhamos para pedir mais esclarecimentos sobre o agravamento do quadro clínico de minha sobrinha e a demora na transferência dela para o isolamento da UTI, e até mesmo o procedimento de ter-nos liberado para acompanhamento da mesma, durante os três primeiros dias de internamento, onde corríamos riscos de contaminação.

Ao chegarmos, pudemos notar um certo ar de transtorno por parte da direção do hospital que, diga-se de passagem, nos atendeu com toda atenção, respeito e boa vontade. Mas, dentre as informações que obtivemos, soubemos da direção do hospital que “os remédios enviados pelo governo para o tratamento da epidemia estão com os prazos de validade vencidos’.

Depois disto, nos colocaram em contato com a equipe médica que está cuidando dos casos. Mais uma situação lamentável e apavorante: os próprios médicos foram sinceros e unânimes em afirmar que eles estão perdidos, que não sabem com o que estão lidando e nem ao menos se estão lidando realmente com o referido vírus H1N1.

Que muitos já perdem o sono, pois veem que tudo o que estudaram é tentado no dia seguinte sem obtenção de resultados. Que estão diante de uma situação desesperadora, impotentes, e de mãos atadas.

Eu lhes pergunto, meus amigos. Em que país estamos vivendo, onde as notícias de corrupção assolam a mídia, enchem as burras dos governantes vergonhosamente, e o Ministério da Saúde, mediante situação de tamanha gravidade, envia-nos medicamentos vencidos para tratarmos de uma doença que nem eles próprios estão preparados para enfrentar?

Quantos de nós, de nossos filhos, netos, amigos ainda serão contaminados e ficarão à mercê das piedosas mãos divinas, como estão essas duas vidas e outras mais espalhadas nos hospitais de nossa cidade, enquanto nossos governantes tentam tapar o sol (ou a chuva) com a peneira?

Mais uma vez estamos sendo vitimados pelo descaso. Vidas estão sendo ceifadas e o desespero está desestruturando famílias.

Hoje encontramo-nos privados da companhia de muitos amigos, filhos e netos, pois ainda tememos (depois do que nos foi repassado) pela integridade da saúde deles.

Por favor, gritem ou ajudem a gritar, corram aos primeiros sintomas, exijam o atendimento de respeito a que todos nós, cidadãos brasileiros, temos direito e pagamos por ele. Vamos fazer chegar a nossa indignação aos ouvidos dos principais culpados em vez de nos revoltarmos com os profissionais que se encontram tão ou mais perdidos que nós mesmos.

Continuemos rezando, pois a essa altura a única coisa que nos resta é confiar em Deus.

Gostaria de afirmar que nós, da família G., assumimos todas as informações contidas aqui e asseguramos que essa é a exata forma como elas nos foram repassadas.

Por gentileza, encaminhem essa mensagem para o maior número de pessoas possível, para que possamos evitar o comprometimento de mais vidas. Deus os abençoe pelas orações em favor de minha sobrinha N. e dos outros que se encontram na mesma situação.”

(M.C.G.M.)