Lembra do Jaguara, o Animador de Velórios dos Campos Gerais? Pois apareceu ontem na capital, chamado ao Palácio das Araucárias para avaliar a motivação do secretariado que, segundo o próprio governador Roberto Requião, é um colegiado de apedeutas. Em princípio, o Jaguara não entendeu bem: “Apedeutas?”.

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O Animador de Velórios é um camarada formado nas conversas ao pé do fogo de grimpa nos Campos Gerais, daí que arriscou um palpite:

– Apedeuta… só pode ser aquele tongo que não “apedeu” nada quando foi à escola. Só ia para comer a merenda e frestar a saia da professora.

Quando chegou ao Palácio das Araucárias, o Jaguara foi recebido pelo chefe da Casa Civil, Rafael Iatauro, que lhe explicou tim-tim por tim-tim, conforme lhe foi passado pelo governador.

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– Apedeutas, caro Jaguara, são os nossos secretários de Estado, diretores, dirigentes de estatais, enfim, todos os que ocupam cargos de direção e que sofrem de profunda ignorância.

– A pensar morreu o burro. Me explica conforme o dicionário!

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– É uma pessoa ignorante, sem instrução.

– Então era o que eu imaginava. Mas só não imaginava que tinha tanto tongo assim no governo? Isso pode? E como foi que só agora, quando a Inês é morta, o governador descobriu?

– O Roberto foi prestigiar o Festival de Cinema promovido pela Escola de Cinema da atriz Íttala Nandi e, ao chegar lá, não viu nenhum graduado presente. Segundo o governador, isso se deve à ignorância, ao despreparo, à falta de cultura dos secretários e diretores que deveriam, pelos cargos que ocupam, ser a expressão das cabeças mais preparadas do Paraná. São apenas os mais ignorantes.

– É o cara! Conheço um tipo assim em Brasília. Não “apedeu” nada na escola, entrementes é um bagre ensaboado por conta própria. Matava aula para tomar uns aperitivos no bar da esquina com os companheiros e companheiras da “crasse”.

– Precisamos de tua ajuda para botar essa gente na linha.

– Sinto muito, doutor Iatauro: não tenho vocação para doutor! Essa gente precisa ser arrebanhada no laço, tratada no relho e no joelhaço. Neste caso, entonces, só chamando o Analista de Bagé!

– Trazer o Luis Fernando Verissimo fica muito caro. Quem sabe um Animador de Velórios do teu naipe para educar esses apedeutas?

– Mas pelo menos vocês têm alguma explicação para tanta “inguinorância”?

– Bem… excluindo-se o Museu Oscar Niemeyer, as verbas para a Cultura nunca foram o forte do governo. Talvez tanto mau exemplo tenha levado esses apedeutas a desconsiderar o festival da atriz Íttala Nandi.

– Mas, se não me falha a fiação do “célebro”, essa senhora não foi aquela que confundiu Jesus com Genésio, disse que o Paraná é colonizado pelos segmentos sociais do mundo mais repressores, que são os poloneses, alemães, italianos e cracovianos? Disse que jamais viu um estado coberto de maior terror do que o Paraná. E que a maioria dos seus alunos sofria de depressão.

– Águas passadas não movem moinho. Vamos ao que interessa: você tem algum macete para motivar esses mondrongos a comparecer aos eventos culturais do governo?

– Como já dizia aquele tal de Paulo Francis, a ignorância é o nosso maior patrimônio. E, pelo visto, é rubrica privilegiada do orçamento estadual.

Nesse caso, seria de bom “alcatre” o tratamento no laço, no relho e no joelhaço. Na catracada e no chapoletaço.

– Esta terapia o governador aplica toda terça-feira na Escolinha de Governo e, mesmo na base do tranco, não vem dando resultado.

– Lá nos Campos Gerais, quando não aparece viva alma no velório do falecido, eu costumo pendurar uma perna de salame na porta da casa: aparece todo mundo, entope de cristão. Talvez uma primeira providência seria dar uma guaribada no coquetel “afrescaiado” da cultura. Só servem comidinha de padre, capilé e vinho branco da pior qualidade. A começar pelo vinho: se o governador servir um legítimo Campo Largo… já seria um bom atrativo.