Aos pescadores em águas turvas

Se os políticos são pescadores de ilusões, cabe aos eleitores saber pescar em águas turvas. De olho nas marés eleitorais, tendo uma Copa do Mundo pela frente, o especialista em marketing político Emmanuel Públio Dias faz uma educativa analogia para explicar as pesquisas eleitorais deste período em que, com a bola rolando, rolam muitas desinformações.

Segundo Públio Dias, o processo eleitoral é comparável a uma bacia hidrográfica, onde o rio principal é a intenção de voto: “Os fatos, os fundamentos, a imprensa e a própria atividade política seriam os acidentes geográficos, a base sedimentar do leito do rio, a topografia e as configurações das margens, tudo, enfim, o que dá forma, volume e curso ao rio principal”.

Pesquisas são fotografias parciais mais ou menos nítidas da paisagem. Ao se fotografar (pesquisar) um determinado momento, o que se vê é um retrato do rio principal (opinião pública/ intenção de voto), sem que se possa, a partir dessa única foto, prever as curvas e os pesqueiros deste rio, muito menos onde as águas vão desaguar. “Quem já visitou as Cataratas do Iguaçu – aponta Emmanuel – sabe que elas são precedidas de lagos e remansos que em nada prenunciam o que vai acontecer dali a poucas centenas de metros”.

Faltando apenas quatros meses para as nossas alegrias e mágoas desaguarem nas urnas, Públio Dias avisa aos navegantes que teremos pela frente um conhecido desfiladeiro que, com suas correntes imprevisíveis, pode afundar o barco do governo: “O nome desse desfiladeiro é Copa do Mundo: independente dos resultados em campo, o que vai definir se o barco da campanha governista atravessará o desfiladeiro incólume será o sucesso ou não da organização, da segurança, do funcionamento, da fluidez de comunicações, do deslocamento das torcidas, do acesso e tranquilidade dos estádios. E o mais importante: a imagem que o Brasil vai projetar para si mesmo e para a imprensa internacional”.

Se as corredeiras não atrapalharem, as pesquisas eleitorais devem contar se é verdade que os pesqueiros do Lula estão dando peixe a dar com o pé. Enquanto isso, enquanto rola a bola da Fifa, não adianta perder tempo em águas turvas, tentando adivinhar o resultado das urnas. Futebol é uma caixinha de surpresas e surpresas na política só depois da curva do rio.