Antes que se faça tarde

Posto que o ano só começa depois do Carnaval, ainda é tempo de se descobrir quem teve a ideia de transferir o desfile das Escolas de Samba da rua Marechal Deodoro para o Centro Cívico. Se não foi um guarda de trânsito, podemos presumir que os responsáveis tenham a mesma descendência daquelas múmias que no início do século passado proibiram serenatas nas ruas de Curitiba. Naquela franca e sorridente Curitiba era comum os apaixonados transportarem até pianos para as suas serenatas. Acordes de violas esquentavam as noites de inverno e, possivelmente, foi a partir daquela lei do silêncio que a cidade passou a ser conhecida como “Curitiba, a fria”. 

Nos idos do Entrudo, as pessoas avessas à folia entravam numa cova rasa e se cobriam com palhas e folhas secas. Permaneciam enterradas vivas até quarta-feira de cinzas, para levar o diabo a pensar que estavam mortas e, assim, se esconder das tentações. 

O verdadeiro endereço do Rei Momo é na Marechal Deodoro. Quando levaram Sua Majestade para o Centro Cívico, despejaram-no de domicílio. Com todo respeito às boas intenções do ex-governador Bento Munhoz da Rocha Netto, mas o Centro Cívico é o grande cemitério de Curitiba. E a constatação está no ermo daquelas cercanias: durante o dia lá não reconhecemos vida inteligente e durante a noite não encontramos alma viva. 

Quem planejou o confinamento do samba para o Centro Cívico estava de conluio com aqueles que querem desterrar o Momo. Decretar seu exílio numa pousada da Ilha do Mel, sem direito nem mesmo a que um cachorro vira-lata lhe acene com o rabo, numa demonstração de júbilo. 

Quando confundiram Carnaval com Semana da Pátria, a verdadeira intenção era fazer com que o Carnaval definhasse de fome e frio no descampado do Palácio Iguaçu. O povo gosta de ser recebido com o que temos do bom e do melhor, de preferência na sala de visita. E a Marechal Deodoro é uma das salas de visita de Curitiba. O Centro Cívico é o quarto de despejos.