Ano das sete marolas

Das simpatias de Ano Novo, as mais lembradas têm como objetivo celebrar Iemanjá, a rainha do mar. Conforme a tradição umbandista, a Rainha do Mar nos purifica e nos dá forças para vencer os obstáculos que teremos para o ano que está por vir.

Vestidos de branco (calcinha ou cueca amarela é de bom tom) e com uma oferenda de flores, é preciso pular sete ondas para invocar os poderes de Iemanjá para ultrapassar o obstáculos, abrir os caminhos e nos proteger no porvir. A cada onda, a simpatia deve ser acompanhada de um pedido e, após os sete pulos, o que muitos não sabem é que os umbandistas mais ortodoxos não viram de costas para o mar. Pode atrair má sorte nas finanças.

Como até os umbandistas iniciantes também sabem, desde que Luiz Inácio Lula da Silva assim decidiu, no Brasil não temos ondas. Temos marolas. As sete marolas que a presidente Dilma Rousseff terá que pular miudinho para administrar 2015 de cabo a rabo.

Primeira marola – Com apenas um dia no cargo de ministro do Planejamento, Nelson Barbosa já levou a primeira bronca da presidente da República. Dilma Rousseff bateu na mesa e – como de costume – mandou o auxiliar desmentir as manchetes dos jornais sobre uma nova política de reajuste do salário mínimo. Assim como o ministro Mantega, defenestrado com meses de antecipação, o Barbosa já está sendo chamado de “O breve”.

Segunda marola – Mais raso que a reserva da Cantareira, o novo ministério é tão medíocre que o escritor Luiz Fernando Verissimo – reserva moral do governo – encontrou a palavra certa para explicar aos seus leitores o prato feito que Dilma Rousseff teve que engolir na ceia de Natal: “Estranho é um adjetivo inadequado para o segundo ministério da Dilma: maluco é pouco. Inacreditável também. Esdrúxulo é a palavra. Não tem outra”. 

Terceira marola – Ao citar um trecho bíblico, o comunista Aldo Rebelo se despediu do Ministério do Esporte deixando de herança cinco moedas para seu sucessor, na esperança de o novo ministro devolver dez moedas no fim do mandato. Aldo Rebelo parece desconhecer o prontuário do pastor George Hilton, o novo ministro indicado pela famigerada base aliada. Em 2005, ele foi flagrado com 11 malas cheias de dinheiro, inclusive moedas estrangeiras, totalizando na época uns R$ 600 mil, recolhidos dos fiéis da Igreja Universal.

Quarta marola – Dilma poderia ter explicado no seu discurso de posse porque adotou na prática o que seria uma consequência da vitória de Aécio Neves, os exterminados das políticas sociais com medidas impopulares: “Não condicionamos nossos programas a medidas impopulares, como reajustes fiscais e choques de gestão” – disse a companheira petista, ao prometer que não faria reformas nas leis trabalhistas que reduzissem os direitos dos trabalhadores. “Nem que a vaca tussa!”. A vaquinha não só tossiu, como também desmamou o bezerrinho ao anunciar “correções de distorções” no pagamento de cinco benefícios trabalhistas e beneficiários.

Quinta marola – Nos debates com o tucano no segundo turno, a doutora economista jurou que a inflação estaria sob controle e que o adversário, se eleito, aumentaria as taxas de juro. Bingo! Três dias depois da vitória subiu a taxa básica de juros de 11% para 11,25% ao ano. A previsão para 2015 é que a marolinha inflacionária chegue acima do teto previsto.

Sexta marola – A construtora Camargo Correia subiu no telhado da Petrobrás. Está negociando os termos de um acordo de delação premiada.  
Sétima marola – O juiz Sergio Moro volta ao trabalho nesta segunda-feira.