Em novembro de 1992, abalada por uma sequência de infelicidades, a rainha Elizabeth II confessou que estava vivendo um “annus horribilis”. Bem ao contrário de um “annus mirabilis”, quem está vendo a coisa roxa é a região da Toscana, na Itália – conta a edição do New York Times Internacional, publicada no Paraná pela Gazeta do Povo.

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Conforme o relato da correspondente Elisabetta Povoledo, a cidade de Calenzano, vinte quilômetros ao norte de Florença, está passando por um ano dos mais horríveis em seus olivais. Passeando pelas belas paisagens de sua família, o produtor Federico Dufour pegou algumas bolotas arroxeadas e disse: “Tenho vergonha de chamá-las de azeitonas!”. E exibiu as frutas murchas na palma da mão: “Olha, tem um buraco aqui”. E em seguida descreveu os efeitos devastadores de uma mosca da azeitona que havia devastado sua colheita. No seu ciclo de vida, cada mosca pode depositar centenas de ovos nas azeitonas, exterminando olivais inteiros assim de repente.

Nesse ano horripilante, as moscas destruíram centenas de fazendas na Itália, fazendo de 2014 o “annus horribilis” do óleo de oliva. Além das moscas, fortes tempestades de granizo e inundações e uma bactéria devastadora reduziram a produção de azeitona em cerca de 25 por cento.

A devastação já se traduziu em aumento dos preços na Itália e em breve será sentida pelos consumidores em todo o mundo – avisa o New York Times. O preço do azeite de oliva extra virgem italiano duplicou desde o ano passado e as expectativas também são péssimas para a Espanha, o maior produtor de azeite do mundo.A iminente escassez do azeite trouxe preocupações sobre fraudes e adulterações que poderiam manchar a reputação de um negócio que movimenta aproximadamente US$ 2,5 bilhões na Itália.

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Como na Itália pode faltar o pão, menos o circo, algumas cidades da Toscana realizaram seus festivais de azeitona com o pouco que tinham para oferecer. Além de algumas poucas garrafas da safra de 2013, alguns distribuíram panfletos mostrando as propriedades para o turismo rural, outros ofereceram, além de outros produtos locais, até azeites sicilianos ou gregos. Os agricultores em toda a Itália esperam que a temperatura caia abaixo de zero nesse inverno, matando as moscas, mas até agora as temperaturas mais quentes têm predominado.

Sem confundir Jesus com Genésio, urubu com meu louro e Nabucodonosor com o pai do Agenor, muito menos “annus horribilis” com qualquer outra coisa impublicável, aqui no Brasil as moscas não só atacam as azeitonas das empadinhas alheias, como também preferem o óleo negro da Graça Foster.

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A mosca-da-azeitona, também conhecida como “Bactrocera oleae”, é um inseto da família dos “tefritídeos”. A mosca-da-Petrobrás é um inseto da família dos “propinaedutos”, praga muito encontrada em corredores mal iluminados das repartições federais.  

– “Annus horribilis!” – dirá Dilma Roussef no discurso de posse. Resta saber se a “bipresidenta” estará se referindo a 2014 ou 2015.