“Como o grande jornalista americano H. L. Mencken, (também conhecido por um suposto mau humor) já falei sobre tudo o que não sei: de física quântica ao perfume das glicínias”, diz Nêgo Pessôa, que estará lançando seu novo livro nessa segunda-feira, comme il faut. Ou seja, cercado de amigos que bem conhecem seu singular humor.

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Modas & Modos é o nome da obra editada pela Travessa dos Editores com todo o capricho que merece o mais “cult” dos cronistas de Curitiba. A festa de lançamento será no Bar da Brahma (no final da Getúlio Vargas, esquina com a João Negrão, a partir das 19h), ambiente não muito frequentado pelo autor que deixou de beber e fumar há algum tempo, mas não por isso esqueceu de seus bons e generosos tempos de libações etílicas:

Amostra grátis 1: “Cerveja é bebida ordinária, mistura de diurético com refrigerante. O que não a impede de exigir certa maneira de servir e tomar. Emborcar a garrafa é cretinice. Porque não há colarinho e sem colarinho ela perde mais da metade do gosto; porque não descansa nem perde gás – o que a torna ouriço assustado a descer como bola de carambola cheia de espinhos. Assim cretinos americanos tomam a dita; assim cretinos brasileiros idem. E agora?”.

Atualmente se dedicando a um blog frequentado por poucos e bons, Carlos Alberto (Nêgo) Pessôa lembra justamente H. L. Mencken, de suposto mau humor, quando trava um tiroteio internético quase diário com o barulho nosso de cada dia:

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Amostra grátis 2: “Contra o rock, contra cachorro, contra a sexta-feira. Três flagelos dos tempos modernos. Não sei o que é pior. Cada vez que vejo um cachorro sinto saudades do último ser humano. Desde que não venha acompanhado de um cão”.

Cachorro, barulho e vizinhos, o inferno para Nêgo Pessôa não são outros:

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Amostra grátis 3: “O genial Talleyrand tem razão: antes de tudo não ser pobre. Nem morar em apê, acrescento. Especialmente em prédio em que os babacas moradores têm mania de reforma! Que morram e pereçam! Onde moro quase sempre tem alguém a bater martelo. Às nove em ponto da matina! Pra alguém que dorme às seis é prato cheio”.

Para o este intelectual de bons modos, não afeito a modas, o céu na terra é: cozinheiros franceses, policiais ingleses, mecânicos alemães, mulheres italianas, tudo organizado pelos suíços. O inferno na terra é: cozinheiros ingleses, policiais alemães, mecânicos franceses, mulheres suíças, tudo organizado pelos italianos.

E quando o cachorro, o vizinho e o cortador de grama do vizinho o deixam dormir, o escritor sonha com Irati e a cozinha onde o perfume do café da manhã o levava arrastado à escola, varando a bruma dos Campos Gerais:

Amostra grátis 4: “Sem pão não sou gente (dizia minha mãe). A caminho da senectude (maravilhosa palavra) me tornei um comedor de pão. Gosto de pão de qualquer jeito. E em todas as companhias, especialmente nas más. Gosto de pão a sair do forno, a queimar dedos&língua; gosto de pão dormido, de ontem; gosto de pão ao ponto, mal passado; gosto de casquinha de pão e gosto também da árdua casca do pão italiano, rústico, excelente teste para as renovadas arcadas. Gosto de pão com manteiga e pão com margarina. Mas gosto também de pão sem manteiga e de pão sem margarina como o Fernando Sabino jurava que viu em Portugal. E no azeite, então? E no azeite com sal & pimenta? E no sal? E na pimenta? E afogado no grosso caldo de feijão preto? E na minestra generosa? E nos molhos nos fundos dos pratos? Ah! O pão mata borrão! E no café com leite que minha mãe deixava pronto antes de partirmos de calças curtas pras aulas das manhãs frias do inverno iratiense? E o pão no vinho da italianada civilizadora? E o pão abrigo da cebolada dos nossos adoidados polacos? E o pão sírio? E as broas? Com miolo a 1000 graus Celsius! Com manteiga a se derreter?”

Mesa posta, tudo em seu lugar para a noite de autógrafos no Bar da Brahma. E sente-se que o escriba é manso, o mau humor fica em casa com os vizinhos.