Amnésias do Kapelle

Enquanto muito bebem para esquecer, outros bebem para que a amnésia não os faça lembrar as noites passadas. No antigo e lendário Bar Kapelle – nascido na Rua Barão do Cerro Azul e hoje quase aposentado na Rua Saldanha Marinho -, as noites não tinham memória. Tinham uma vaga lembrança.

Anésio sentado no balcão de entrada.

Lembranças que agora podem ser reconstituídas através de retratos (ou fragmentos de fotografias datadas de março e abril de1979) encontrados entre os guardados do garçom Anésio Silva, que por muito tempo foi o ombro amigo de jornalistas, fotógrafos, músicos, atores que batiam ponto diariamente no velho Kapelle. Inclusive o escritor Manoel Carlos Karam e o poeta Paulo Leminski.

Quase perdidas na poeira do tempo, as fotos retornaram a Curitiba graças a Enaide e Gisele de Souza, a viúva e a filha que moram em Lagoa Vermelha (RS). Pelo Facebook, conta a filha Gisele que o pai (falecido aos 59 anos de câncer, em 2012), guardava as fotos com muito carinho: “Um pouco corroídas pelo tempo, algumas são engraçadas e, digamos,até impublicáveis. Mas mostram a diversão de uma turma de boemia e amizade”.

É fim de noite.

Por ter sido por muitos anos o único garçom do Kapelle da Mara (Silmara Rocha), Anésio era carinhosamente chamado de “Amnésio”, apelido que os fregueses só lembravam quando o corredor e a pequena sala do bar estavam lotados. O que era uma rotina para aquele ombro amigo que guardou as “amnésias do Kapelle”.

O pintor Rogério Dias no centro, com o escritor Manoel Carlos Karam, de óculos, logo abaixo.