Amigos da onça

Com uma ou duas vinas, com fila ou sem fila, a Vinada Cultural foi um sucesso tão grande que os criativos da revista Bom Gourmet, da Gazeta do Povo, preparam-se para organizar outro evento no estilo: o Amigos da Onça, um sábado dedicado à carne de onça e outras comidinhas de boteco.

Quem já conhece o encontro de Stammtisch, a festa de rua de Blumenau, não ficou surpreso com o sucesso da Vinada do Passeio Público. É ver para crer: o Stammtisch reúne mais de 25 mil festeiros ao ar livre para cantar, comer e beber, com todos falando o mesmo idioma: o da confraternização. Em bom alemão, Stammtisch é a mesa cativa. Confrarias que se reúnem nos bares. É o encontro da velha e boa turma do boteco em torno da “mesa da diretoria”, para jogar conversa fora, beber, comer e celebrar a vida.

Com mais de 250 barracas, o farnel de cada Stammtisch é feito e levado de casa: rollmops, heringsbrot (pão com ovo e sardinha), matjeshering (com nata bem sorada e sardinha em salmoura de 15 centímetros da Hemmer), torresminhos, queijos com ervas, ovos na salmoura, morcilha e outros variados tipos de linguiças, salsichas e embutidos. Para reforçar a mesa, que a festa é longa, picanha, costela, porco no rolete, eisbein, paella, goulash, até peixe na brasa. Para fazer bonito, cada confraria investe do próprio bolso nos comes e bebes e transporta para a tenda, montada na rua, o próprio bar: a mesa redonda da diretoria, o balcão, a churrasqueira, panelas, chopeiras, copos, talheres, a mesa de sinuca, o enxoval permanente de um Stammtisch.

Conheci o Stammtisch pelas mãos do jornalista, publicitário e músico Horácio Braun, autor da frase que virou saudação em Blumenau: “Vamos beber que é para não comer de estômago vazio!”. Sem querer comparar o incomparável, é possível dizer que o Amigos da Onça no Passeio Público pode vir a ser um Stammtisch diferente, com sotaque leitE quentE. Podemos perder para Blumenau em termos de líquidos, os hectolitros de chope. Mas quanto aos sólidos, com os acepipes de Curitiba não há quem possa. 

Só não poderá faltar, sob o risco de fracasso total, uma barraquinha dedicada ao rollmops, aquele legítimo. Bem como disse o especialista em generalidades Eduardo Visinoni: “Rollmops, antes de ser petisco, é um atestado de macheza bruta. Uma cebola ardida, enrolada por uma sardinha salgada, embebida em líquido ácido e transpassada por um palito tosco sempre será pra gente que palita o dente com facão”.