Amigo gêmeo

Jornalista, publicitário e pândego de sete instrumentos, o blumenauense Horácio Braun foi um dos fundadores da Oktober Fest. Ele cultivava a teoria conspiratória de que havia um conluio entre a Rede Globo e um cartel nordestino para prejudicar o turismo no sul do Brasil.

A prova desta aliança criminosa estava na Moça do Tempo do Jornal Nacional, dizia Horácio:

– Podem reparar, tempo bom do Rio de Janeiro pra cima, chuvarada de Curitiba pra baixo.

O alemão não citava São Paulo porque já naquela época ele dizia que paulista, para tirar a água do joelho, tinha que subir no teto do automóvel.

Convencido de que a Moça do Tempo queria prejudicar os sulistas, certa vez Horácio instalou uma câmera na pousada de um amigo na praia de Bombinhas, só para mostrar ao vivo as condições do tempo no litoral de Santa Catarina. Com a câmera focalizada no marzão em frente, sempre que ligavam para cancelar a reserva, depois do Jornal Nacional, a recepção pedia para o cliente tirar a prova dos nove pela internet.

Se ainda estivesse fazendo festas entre nós, ontem e hoje Horácio estaria arrecadando donativos para as vítimas da região serrana do Rio de Janeiro, assim como tantas vezes os cariocas ajudaram os catarinas nas tantas catástrofes do Vale do Itajaí.

Ao mesmo tempo, no dia de ontem o alemão estaria novamente furibundo com a Moça do Tempo:

– Ora, de São Paulo em diante caiu o mundo, mas dizer que em Santa Catarina ia chover canivete?

De fato, longe da previsão, depois de três dias de tempo ruim o dia de ontem foi espetacular. Até parecia que o sol estava mandando uma banana para a Moça do Tempo.

E um abraço para Horácio Braun, personagem tão celebrado em Santa Catarina e de quem, depois de sua morte, os blumenauenses puderam ler em outdoors espalhados em vários lugares da cidade esta frase:

– Horácio Braun. Signo Gêmeos.

Como não trazia nenhuma explicação extra, a publicação despertou a curiosidade da população. A veiculação fazia parte de uma pesquisa realizada pelos acadêmicos de Publicidade e Propaganda da Furb. O projeto tinha como finalidade medir o retorno da mensagem transmitida por outdoors em Blumenau, através de pesquisa quantitativa. Para isso, inicialmente foram entrevistadas 384 pessoas para descobrir quantas sabiam qual o signo de Horácio Braun.

Finalizada esta etapa, foram espalhados outdoors em 30 pontos diferentes, onde se lia o nome e o signo do cronista e agitador cultural. Após a publicação, outras 384 pessoas foram submetidas ao mesmo questionamento.

Segundo os estudantes, “os resultados provaram a eficácia da mídia externa como transmissor de mensagem. Antes da veiculação da frase nos outdoors, apenas 4,1% das pessoas acertaram a resposta e a maioria, 48,6%, não tinha conhecimento. Na segunda etapa da pesquisa, após a veiculação, 62,5% dos entrevistados responderam à pergunta corretamente e todos afirmaram terem tomado conhecimento da informação por meio do outdoor, um meio de comunicação urbano que atinge várias classes sociais e faixas etárias, independentemente da vontade. É uma mídia compulsória que está nas ruas, acessível a toda a população. Não precisa ser comprada, ligada ou folheada”.

***

Para os amigos, Horácio Braun sempre foi um irmão gêmeo. Um camarada que vivia sob o signo da alegria, mesmo quando os seus negócios não iam bem. Certa feita, depois de perder 100 mil dólares num bar que montou em Joinville, ele se queixou ao amigo:

– Sou um péssimo administrador! Casei noves vezes, tenho filhos em diversos casamentos e ontem, no meu aniversário, convidei todas as minhas ex-mulheres e meus filhos. Somente uma não veio. Todas estavam contentes e uma não apareceu, que tristeza…