Não sei como está aí. Mas aqui na Lisboa de Todos os Santos já canonizaram Paulo Leminski. Pelo menos é o que dizem as escadinhas (foto) que nos deixam na porta do metrô, na Rua do Crucifixo, aqui no Chiado: “Escadinhas do Espírito da Pedreira”.
Nome de uma das áreas mais tradicionais de Lisboa, que virou cinzas no grande incêndio de 25 de agosto de 1988, uma placa de rua nos informa que o nome Chiado seria em homenagem ao poeta que tinha esse apelido. Enquanto na voz do povo o nome seria por causa do chiado das rodas das antigas carruagens a subir e descer as ladeiras das sete colinas de Lisboa.
Se fosse para explicar a origem de ruas, travessas, becos, largos, praças, bairros e até de escadinhas como as do Espírito da Pedreira, cada Freguesia de Lisboa teria que fazer um gigantesco catatau à parte: Beco do Cascão, Largo das Garridas, Poço dos Negros, Pátio do Albergue das Crianças Abandonadas, Beco do Pocinho, Rua da Fresca, Rua da Bempostinha, Quinta do Espião, Pátio do Joaquim Polícia, Pátio das Malucas, Travessa do Pinto, Quinta da Argolinha, Travessa do Vintém das Escolas, Pátio do Ferro de Engomar, Travessa do Pau-de-ferro e Azinhaga da Bruxa. Essas são apenas algumas delas.
Tem mais, tem muito mais: Pátio da Fartura, Rua da Cozinha Econômica, Rua da Horta das Tripas, Rua Joaquim Leiteiro, Beco da Bicha, Largo do Chafariz de Dentro, Rua do Benformoso, Vila do Penteado, Beco dos Surradores, Travessia da Zebra, Vila do Cabaço, Rua do Saco, Travessa da Rabicha, Rua da Buraca, Rua dos Bons Dias, Pátio da Mariana Vapor. Cinco são as ruas chamadas Direita, uma rua chamada Esquerda, e só de Santo António são quase cinquenta!
Ao contrário de Curitiba, onde os nomes de rua são moeda de troca dos vereadores, aqui o nome de rua que o povo dá sempre prevalece. A rua Triste-Feia, por exemplo: era onde morava uma senhora que vivia na parte de cima da rua e que não era muito bonita e daí o nome. Só mesmo em Lisboa para o turista sem rumo se encontrar com um catarina de Santo António de Lisboa, terra de açorianos: “Depois do Beco da Amorosa, não tem a Travessa dos Prazeres? Pois daí entra na Praça da Alegria e segue toda vida!”.
Em Lisboa, no tempo do ditador Salazar, se dizia haver três coisas difíceis de entender: o palácio onde habitaram reis, das Necessidades; o cemitério, dos Prazeres; e a principal avenida, da Liberdade.
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Dando este Diário de Lisboa por findo, a partir de segunda-feira estaremos de volta ao velho e já saudoso Beco do Mijo, fundos da Catedral Basílica de Nossa Senhora da Luz. Inté!