Graças ao baú sem fundo que é a internet, de repente eis que surgem algumas curiosidades sobre a vida do compositor Lupicínio Rodrigues. Nascido em Porto Alegre, o celebrado “inventor da dor de cotovelo” é autor das principais canções que ainda sustentam a boemia por este mundo afora: Nervos de Aço, Cadeira Vazia, Se Acaso Você Chegasse e, para provocar a dor de cotovelo também no futebol, ele é ainda autor do hino do Grêmio. Para os fãs incondicionais do Lupi, dentre as coisas pouco conhecidas está faltando uma. Se não a mais importante para o público gaúcho, a que mais toca aos paranaenses.

continua após a publicidade

Apesar de boêmio, no fim de semana ele virava caseiro. Só era boêmio de segunda a sexta, no fim de semana gostava de reunir a família, fazer churrasco, cozinhar para os amigos.

O compositor da boemia tinha hora marcada para voltar para casa. Quando ia para a noite, Lupicínio tinha uma carta de alforria da mulher só até as quatro horas da manhã, quando tomava uma sopinha e ia deitar.

Seu melhor amigo era um boxeador. Eram corda e caçamba. O cara era um dos maiores intérpretes das composições do Lupicínio, cantava na noite.

continua após a publicidade

Culpado por falir todos os investimentos em que punha a mão, ele foi proprietário de alguns bares e restaurantes. Lupicínio ia de bar em bar para dar uma canja e os fãs com ele. E acabavam não ficando no bar dele!

Uma vez, ele encontrou Caetano em Porto Alegre. Caetano saiu de um show todo maquiado e a gauchada ficou com o pé um pouco atrás. Baiano, de batom, não foi bem recebido. Mas Lupi o acolheu, eles ficaram uma madrugada inteira conversando. 

continua após a publicidade

Aos 14 anos, já circulava pelas rodas de samba e compunha. Era um papa-prêmio. Onde ele colocava música, recebia troféu. Com 14 anos, já estava fazendo samba. O pai viu que o guri não era flor, gostava de samba, de mulher, de noite, já tinha roda de amigos…

A dor de cotovelo tinha muito de marketing. A cada experiência amorosa, ele fazia música para sublimar a paixão. A dor de cotovelo era muito bem aceita, as pessoas curtiam.

Com o Grêmio onde o Grêmio estiver, Lupicínio deu o troco em um dono de restaurante racista da melhor maneira possível. Ele costumava ir ao restaurante de um português em Porto Alegre. Certo dia, o garçom informou que a casa não queria mais receber negros. Lupicínio protestou, chamou a polícia e proprietário respondeu a processo. A vingança do Lupi foi ir em um outro restaurante do mesmo dono, para ser servido por ele.

Na Curitiba da década de 1960, em suas idas e vindas entre as boates, o Bar Palácio, o jornal e a casa, numa daquelas madrugadas o jornalista Renato Muniz Ribas tirou a sorte grande num banco de praça. Colunista desta Tribuna do Paraná, Renatão estava saindo da boate Marrocos quando viu um moreno de bigodinho cantando maravilhas no ermo da Praça Osório. Pediu licença, sentou, e com a caixa de fósforos acompanhou com a devida competência o violão do compositor.
Quando o dia amanheceu, os dois se apresentaram:
— Muito prazer, Renato Muniz Ribas!
— O prazer foi meu: Lupicínio Rodrigues!

Esses moços, pobres moços… O show do Lupi saiu barato: café da manhã com pão e presunto na padaria.