Não sabe onde a presidente Dilma estava com a cabeça quando resolveu dar um rolezinho em Lisboa. E por certo também não se sabe onde foram parar as cabeças dos bacalhaus que a comitiva saboreou no restaurante Eleven, o cinco estrelas rodeado pelo verde do Parque Eduardo VII com uma deslumbrante vista sobre o Tejo.

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Pelo que se deduz do cardápio, o Eleven realmente é uma casa de pastos onde qualquer mortal perde a cabeça. Inclusive as cabeças coroadas. Das entradas frias, poderíamos destacar a salada de outono com vieiras, chanterelle e presunto alentejano. Ou então, para ser coerente com os frutos do mar, uma terrina de foie-gras com cavala defumada, maçã, pêra roxa e gengibre. Sem esquecer de mencionar a cataplana de lavagante com raviólis de cogumelos silvestres ao molho de crustáceos. Depois de uma sopa de ostras com beterraba, escoltada do caviar avruga, Dilma e seu 40 convivas devem ter passado ao bacalhau propriamente dito e confitado, com cassoulet de feijão-verde, tarte de batata e cebola roxa ao molho de castanhas.

Assim posto, tudo é uma questão de gosto, poder e um bom cartão corporativo para se escolher o que bem entender do cardápio do Eleven. É o caso do sortido de peixe com legumes de outono e molho de mexilhão, selecionado ao momento pelo chef Joachim Koerper, um apaixonado pelos produtos do sul da Europa, pelos seus sabores, cores, aromas e texturas. Consultor da Quinta das Lágrimas de Coimbra, onde Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousset são velhos fregueses de caderno, Joachim é um profundo conhecedor da cozinha portuguesa e dos produtos disponíveis do Porto ao Alentejo.

Para encerrar o rolezinho no Eleven, um clássico soufflé de queijo e goiabada com gelado de cumaru, acompanhado de um vinho Riesling Eiswein alemão, safra 2009. Uma porção desagradável do queijo com goiabada deve ter sido a lembrança do que teriam de engolir no Brasil. O que a grande imprensa iria comentar sobre a esticada em Lisboa de 15 horas e alguns milhares de euros, quando o normal seria uma ligeira parada técnica do avião presidencial? Para um simples de reabastecimento – de querosene e não das iguarias do Eleven -, não carecia a milionária logística para desfrute da mordomia. 

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A presidente tem todo o direito de ser tratada como uma rainha. Mas quanto às despesas dos 40 convidados, deixa pra lá, são águas de bacalhau.