Reconduzido o Carnaval à rua Marechal Deodoro – atenção revisores, a Marechal é rua e não avenida! –, o passo seguinte da cidade será retomar uma velha polêmica comandada pelos Acadêmicos do Contra: Afinal, vamos ou não vamos exterminar de uma vez por todas o Carnaval de Curitiba?    

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O cronista Ernani Buchmann foi o primeiro a se insurgir contra o Rei Momo galego de cabelo pixaim – se é que ele existe –, ao reivindicar que se extermine o mirrado Carnaval de Curitiba por falta de quórum. Membro da Academia Paranaense de Letras e ex-presidente do Paraná Clube, Ernani é outro “catarina cansado” (como são chamados os catarinenses que, a caminho de São Paulo, ficam por aqui mesmo). Mas, como não é preguiçoso, trabalhou no Rio de Janeiro e Recife, passou tempos em Brasília e em Minas Gerais. Mais que opção, mora em Curitiba por amor. E deixou isso com todas as letras no livro “Onde me doem os ossos”, onde essa relação de paixão e ódio está no divã do analista urbano:

“Eu faço a autocrítica antes de fazer a crítica. Acho que a cidade tem que me dar o direito de falar mal dela, assim como ela tem o direito de falar mal de mim”.

Dos aspectos altamente criticáveis da cidade, o acadêmico Buchmann dá de exemplo o Carnaval: o funeral do samba.

“Há anos escrevo sobre algo que não existe e, mesmo assim, insisto. Sustento que o Carnaval não é manifestação cultural que, aqui nessa terra, se preze. Curitiba não tem ancas tremelicantes, talvez por não se dar ao direito de tamanha leviandade. O fato é que Carnaval em Curitiba tem tom funerário, começando pelo clima, terminando no desfile das escolas de samba. Escolas de samba, disse eu? Pois errei. Um pobre sujeito que tratasse de aprender a requebrar em uma, ó heresia, escola de samba de Curitiba, sairia troncho como gingado de islandês bêbado”.

Algumas expedições punitivas já foram traçadas para calar o inimigo público número um do Carnaval de Curitiba. Em vão: cara a cara com o bom humor do cronista, que além do mais sabe de cor e salteado os sambas-de-enredo cariocas, os carnavalescos ficam desarmados. Também publicitário de sucesso, Ernani foi o pioneiro a levantar que a capital paranaense não está aproveitando suas discrepâncias sociológicas e climáticas para acrescentar ao calendário um novo destino turístico ao Brasil nos meses de janeiro, fevereiro e março.

Ernani propõe algumas mudanças na “suruba carnavalesca curitibana”:

“Em primeiro lugar, que seja o Carnaval abolido por decreto. Onde se lia Carnaval, leia-se `Festival de Inverno´, comandado por algum maestro de clássica formação. Para tal, seria necessário que as escolas sofressem modificações em sua estrutura, de modo a virarem conjuntos de música erudita. Assim teríamos a Camerata Mocidade Azul, a Orquestra Sinfônica Embaixadores da Alegria, a Filarmônica da Sapolândia”.

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