Abraço no carcereiro

(De Florença)

O futuro a Deus pertence, mas pelo visto até Ele está em dúvida quanto ao futuro político do governador Beto Richa. Talvez no final dos seus quatro anos de mandato aconteça com ele o que aconteceu a Cosme I de Medici (1519-1574), um dos mais sábios homens de sua época, que depois de encerrado na torre do PalazzoVecchio, passou quatro dias sem comer com medo de morrer envenenado.

Naquela conturbada Firenze, muitos queriam que Cosme fosse exilado; outros queriam também que o matassem; o restante se calava por medo ou compaixão. Enquanto não se decidia o que fazer com ele, o senhor do Palazzo Vecchio foi trancafiado na Torre di Arnolfo e sua guarda confiada ao carcereiro. Sentindo o ânimo de Florença do alto, o Grão Duque receava que o matassem publicamente, ou ainda que o abatessem na sombra. Por isso, o desafortunado Medici passou quatro dias sem tomar qualquer alimento, a não ser um pedaço de pão que havia levado consigo.

Percebendo os receios do prisioneiro ao recusar o jantar pelo quarto dia seguido, o carcereiro aproximou-se do prisioneiro e, com o olhar desolado, disse com tristeza:

– Não serei eu a tirar a tua vida nesta masmorra. Fica tranquilo! Come e te conserva vivo. Se não acreditas, peço a honra de sentar à tua mesa. Eu comerei de tudo, antes de ti.

Ouvindo estas palavras, o Grão-Duque de Florença sentiu-se reconfortado e, atirando-se aos prantos ao pescoço do carcereiro, jurou reconhecimento eterno, com a promessa de uma grande recompensa caso a sorte lhe voltasse. Cosme se recordou da promessa, feita na torre do Palácio Vecchio ao carcereiro que se chamava Federico Malavolti.

Encastelado no Palácio Iguaçu, caso a fortuna não o proteja nos próximos quatro anos, Beto Richa não deve abraçar os amigos. Melhor seria o abraço do carcereiro.