A volta da feijoada do Passeio

Dizia Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, que uma feijoada só é realmente completa quando tem uma ambulância de plantão. Feijoada completa, você sabe, é aquela cumbuquinha que, milagrosamente, vem com um porco inteiro dentro. Inclusive os grunhidos, para quem gosta de imitar o arroto dos suínos. “Feijoada completa” também é nome de um samba de Chico Buarque de Holanda:

Mulher, você vai fritar / Um montão de torresmo pra acompanhar: / Arroz branco, farofa e a malagueta; / A laranja-bahia ou da seleta. / Joga o paio, carne seca, / Toucinho no caldeirão / E vamos botar água no feijão!

Feijoada completa, faltou Sergio Porto dizer, é principalmente aquela onde se faz necessário um guindaste para nos levantar da mesa. O que é o caso da feijoada da chef Helena de Menezes, que neste sábado ressuscita a lendária feijoada do Passeio Público.

Chefe de cozinha especializada em comida típica do Paraná, Helena se consagrou no seu restaurante Manjhericão, no Alto da XV, quando recebia para a feijoada que introduziu seu nome na relação dos chefes mais celebrados de Curitiba. Com uma brava história pessoal e profissional, mais adiante Helena criou o restaurante Estrela da Terra, um marco da culinária regional, ganhando com ele vários prêmios da crítica especializada.

Ao iluminar os temperos e doces regionais, a Estrela da Terra brilhou internacionalmente: depois de cozinhar para o Imperador do Japão em Brasília e no Jardim Botânico, Helena Menezes passou um ano à frente do restaurante do Clube Concórdia, quando foi homenageada pelo governo alemão de Baden-Wurtembërg e ainda convidada para cozinhar, durante 15 dias, a comida típica com pinhão em um hotel cinco estrelas, durante a Feira de Stuttgart, em janeiro de 2011. O convite foi feito por Richard Drautz, Ministro de Economia da República Federal da Alemanha e reiterado por Hans Dieter Frey, Gerente do Departamento de Política e Comércio Exterior. 

Como já escreveu Jaime Lerner, “o Passeio Público é a nossa praia. Referência de gerações, garantia de boa conversa, sobretudo nas manhãs de sábado. Um signo da cidade, com suas mesas ao ar livre, onde nem o tradicional bolinho de arroz, o chope e os fregueses estão a salvo da falta de cerimônia dos pássaros que habitam a generosa vegetação do entorno”. 

E porque a vida é a arte do encontro, neste sábado devemos cantar os versos de Chico Buarque para saudar a volta da feijoada do Passeio Público:

Helena, você vai gostar: / Tô levando uns amigos pra conversar. / Eles vão com uma fome / Que nem me contem; / Eles vão com uma sede de anteontem. / Salta a cerveja estupidamente / Gelada pr’um batalhão / E vamos botar água no feijão!