No imaginário das mulheres dos caboclos do Rio Iguaçu, Maria Sete Pelos era uma prostituta que dormia com o Diabo em troca dos poderes de fechar o corpo. Era a pecadora que aprendeu com o Capeta que a semente de um homem era o elixir dos deuses, a feiticeira que fazia reacender nos maridos paixões apagadas.

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Como que hipnotizados pelo revoar daquela mariposa do Iguaçu, os fregueses de seu lupanar eram só olhos e ouvidos quando algum ribeirinho perguntava à bruxa se era verdadeira sua ligação sexual com o Demônio. Às gargalhadas, Maria Sete Pelos respondia: “À meia-noite no meu quintal com a cabeça ao ar, com a porta aberta para o Rio Iguaçu, eu enterro e desenterro umas botijas, e estou nua da cintura pra cima e com os cabelos soltos, e nua da cintura pra baixo eu falo com o diabo, e levo ele pra cama!”.

Protegida e discípula do Monge João Maria, o curandeiro de ervas que liderou os revoltosos da Guerra do Contestado, Maria Sete Pelos era portadora de um maçudo caderno de notas com todos os tipos de rezas para fechar o corpo. Das mais populares às desconhecidas até pelo padre exorcista da paróquia de União da Vitória, só revelava que, para não abrir o corpo, não se deve comer tapioca ao anoitecer, pinhão caído de uma araucária atingida por raio, sentar em pedra de amolar ou no pilão, atravessar riacho com roupa preta, passar por baixo de uma cerca sem tirar o chapéu, beber água de bruços ou atravessar uma encruzilhada.

Entre as orações para fechar o corpo contra balas quentes, facas frias, águas mortas e vivas, fogo, dentada peçonhenta, pragas e outros malefícios, Maria Sete Pelos costumava recomendar a poderosa e conhecida oração de Santa Catarina: “Santa Catarina milagrosa, se tiver alguma coisa atada dentro de minha casa ou do meu corpo, sairá em seu nome; se eu tiver inimigo não me enxergarão; não serei ferido com armas de fogo, nem com faca e não serei preso; de hoje em diante, não serei mordido de cobras, nem de aranhas. Em nome de Deus e de Santa Catarina não me botarão inveja, olho gordo e mau olhado”.

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Contam os caboclos da divisa com Paraná e Santa Catarina que Maria Sete Pelos também atendia pedidos para fechar o corpo de jogadores de futebol, sempre que os gringos da estrada de ferro da “Southern Brazil Lumber & Colonization Company” desafiavam os brasileiros para um jogo de bola.

Nesse caso, a oração de São Cipriano pedia para segurar na mão direita uma chave e com ela fazer uma cruz na ponta do pé direito, outra cruz no peito, e por último, uma cruz na testa: “Salvo estou, salvo estarei, salvo entrei, salvo sairei, são e salvo na proteção de São Cipriano eu entro, com a chave do senhor São Pedro eu me tranco. A São Cipriano eu me entrego, com as três palavras do credo Deus me fecha .Que o Divino Espírito Santo ilumine meu caminho, me livrando dos adversários que possam impedir minha vitória. Amém!”.

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Para quem não crê em bruxas, nas feitiçarias de Maria Sete Pelos, muito menos nos poderes do Felipão, que pelo menos Santa Catarina e São Cipriano intercedam por nós!