Em 1927, quando o explorador David Fairchild andou pela África, o guia lhe apresentou algumas bagas vermelhas que “não eram boas o suficiente para ficar entusiasmado, embora não tão ruins”. Pouco tempo depois lhe ofereceram uma cerveja para saciar a sede e veio a surpresa: de repente, a cerveja ficou doce.  

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Era a magia da miraculina, a fruta proibida e milagrosa originária dos Camarões, chamada pelos cientistas de “synsepalum dulcificum”. Mastigada sem engolir, ela tem a propriedade de adoçar o que a pessoa pode colocar depois na boca, quer azedo ou amargo.

Depois de beber a cerveja e mastigar limões magicamente doces, David Fairchild relatou que a baga em si mesma não tem muito sabor; o ingrediente ativo da fruta é uma glicoproteína chamada miraculina. Como algo saído de super-homem, a molécula de miraculina age como uma chave para o cadeado de suas papilas gustativas.

Em seu delicioso livro “Os caçadores de frutas”, o jornalista Adam Leith Gollner conta que a qualidade da doçura induzida pela fruta milagrosa é mais desejável do que qualquer dos adoçantes naturais ou sintéticos conhecidos. Empreendedores sentiram o potencial dessa alternativa saudável ao açúcar, até que na década de 1960 um jovem biomédico visionário chamado Bob Harvey conseguiu o milagre que poderia mudar o mundo da alimentação.

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Na época com 35 anos, inventor de um coração artificial movido a energia nuclear e já milionário, Harvey descobriu um modo de tornar a miraculina disponível em forma de pílulas. Nos cinco anos seguintes, ele levantou US$ 7 milhões de investidores e desenvolveu uma linha de produtos isentos de açúcar, como refrigerantes, coberturas para saladas e “drops” da fruta milagrosa. Seus picolés eram cobertos de miraculina, de modo que as primeiras lambidas preparavam a língua para o sorvete azedo de dentro. Em testes nas escolas, esses picolés se revelaram mais populares entre as crianças do que os adoçados com açúcar.

A fruta milagrosa estava pronta para fazer bilhões. No entanto, as corporações mastodontes da indústria do açúcar, ciclamatos, aspartame, sacarinas e outras drogas artificiais estavam teimosamente determinadas a acabar com ela. Em 19 de setembro de 1974 a FDA (Food and Drug Administration, órgão governamental dos Estados Unidos que faz o controle dos alimentos) proibiu a miraculina, determinando que uma solicitação de aditivo alimentar teria de ser preenchida, exigindo anos e milhares de dólares em testes adicionais. Imediatamente, sob a pena da lei, Bob Harvey fechou a empresa e o que era doce se acabou.

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