À sombra da árvore de Natal

Principalmente com a ressaca natalina, ressurge o desejo que estava flutuando no ar: consumir menos e viver melhor, porque o menos é mais. Dezembro é o olho do furacão de consumo que a muitos deprime. É quando o velho desejo de viver com menos dinheiro nos faz parar para botar a mão no bolso. Reduzir os custos a tal ponto que a vida não seja governada pela extrema necessidade de cobrir despesas?.

Conversa vai, conversa vem, e a publicidade colabora para tornar o assunto cada vez mais atraente: “Nova frota de carrinhos aumenta índice de satisfação dos consumidores”, diz a notícia de uma rede de supermercados. Antes de se perguntar o que uma frota de novos carrinhos de supermercado pode contribuir para a felicidade geral, cabe outra pensata: será mesmo que para alcançar um mínimo de satisfação é preciso gastar tanto dinheiro?

Gastar ou torrar? – eis a questão. Gastar, a gente sabe: é comprar, por segurança, pneus novos para as viagens de fim de ano. Torrar, estamos aprendendo: é comprar por impulso um celular novo. O velho não tem internet, não tem fotografia, não toca mp3, não tem facebook, mas nos atende perfeitamente bem e não vai nos custar uma nova tormenta no cartão de crédito. A tendência que está flutuando no ar é torrar tudo que é supérfluo.

Abrindo um parágrafo para a primeira pessoa do singular, com a devida permissão do ego, confesso que estou inscrito nessa tendência, na medida dos meus cabelos brancos. Roupas, o mínimo necessário, que nada supera o velho calção de banho e aquele chinelo do verão passado. Os melhores restaurantes são aqueles de sempre; cabem no meu bolso e o bom vinho tem seu preço justo.

O menos é mais, inclusive a barriga. Mas esse é um outro quesito, entra na longa lista das providências a se tomar para 2014, nunca mais festas de final de ano. Sim, é preciso convir; o menos é mais para quem fala de barriga relativamente cheia. Com tanta miséria rondando as portas do shopping, não é um tema politicamente correto a ser tratado à sombra da árvore de Natal.