Todos malucos

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Na madrugada de 16 de novembro, encarregado de promover o embarque da família imperial para a Europa, a bordo do navio Parnaíba, o coronel Mallet foi buscar D. Pedro II no Paço Imperial:

– Que é isso? Então vou embarcar a esta hora da noite? – exclamou o velho Imperador.

Mallet, que hoje é nome de um município do Paraná, adiantou-se com ar respeitoso:

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– O governo pede a Vossa Majestade que embarque antes da madrugada.

– Que governo? – indagou o monarca.

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– O governo da República! – informou o oficial.

– Deodoro também está metido nisso?

– Está, sim senhor! É ele o chefe do governo!

E o imperador, com olhos de espanto:

– Então estão todos malucos!

Patriotismo

Meses após a proclamação da República, o Visconde de Taunay encontrou-se com Benjamin Constant, o ideólogo do regime implantado.

– Olhe- dizia Benjamin – eu contava com sincero patriotismo e só tenho encontrado “pratiotismo”. Conhece esta palavra?

Taunay fez um sinal negativo com a cabeça. E Benjamin continuou:

– Inventei essa palavra para meu uso. Transpondo um R da segunda sílaba para a primeira, “pratiotismo” é o amor incondicional, acima de tudo, ao prato, à barriga, ao interesse pessoal. É o sentimento que inutiliza, espezinha e conspurca o patriotismo.

Salvando a gramática

No Maranhão constituíram uma Junta Governativa de apoio à República com o tribuno Paula Duarte, adesista de última hora, entre os comandantes.  

Ao fim de alguns dias de governo, apareceu na imprensa da terra do José Sarney um manifesto assinado pela Junta Governativa, muito bem escrito, que impressionava do princípio ao fim pela violência da linguagem.

Espantado com a assinatura de Paula Duarte, até dias antes monarquista de carteirinha, um amigo procurou-o para estranhar o fato:

– Que podia eu fazer, meu filho? – observou o tribuno, abrindo os braços – Que podia eu fazer?

E desculpando-se:

– Imagine você que, entre a ignorância e a espada, mal pude salvar a gramática!