A República (1)

Proclamador da República, Marechal Deodoro jamais contestou que, até às vésperas de 15 de Novembro, ele e seu irmão Hermes da Fonseca tivessem servido devotamente ao Imperador D. Pedro II. Sua adesão aos republicanos não passou de cinco dias antes da queda do Império.

Pouco tempo depois, já presidente da República, Deodoro recebeu no Itamarati um político da base aliada (do mesmo naipe destes que cercam a presidente Dilma Rousseff) que alegava ser republicano de longa data, defensor da República desde 1875.

Depois de ouvir o puxa-saco, Deodoro respondeu;

– Pois eu, meu caro senhor, não dato de tão longe.

E pachorrentamente arrematou;

– Eu sou republicano de 15 de Novembro, e o meu irmão Hermes de 17.

A primeira noite do ditador

Na noite de 15 para 16 de novembro, Deodoro piorou consideravelmente sua dispnéia cardíaca e recolheu-se ao quarto, padecendo horrivelmente. Mas mesmo deitado recebia os companheiros revolucionários, dando-lhes ordens e apresentando sugestões.

Nomeado chefe de polícia, Sampaio Ferraz foi vê-lo nessa noite e o encontrou em crise:

– Não sei se amanhecerei! – balbuciou o marechal.

E asfixiado completou:

– Mas, enfim, cumpri o meu dever!

Filhos e sobrinhos

Marechal Deodoro morreu sem filhos. Porém, muito ligado à família, tratava como seus os filhos dos seus irmãos, os quais interferiam na sua vida com certa liberdade, com isso causando-lhe muitos aborrecimentos. 

E sempre que um destes lhe aparecia, era fatal a sua frase:

– Quando Deus não nos dá filhos, o Diabo nos dá sobrinhos!

A parte do cavalo

Presidente da recém-nascida República, convidaram Marechal Deodoro para visitar o atelier do pintor Rodolfo Bernardelli, no qual se achava quase acabado o quadro representando a Proclamação da República.

O velho soldado parou diante da tela, na qual sua figura varonil aparecia montando um garboso cavalo.

De repente, o marechal voltou-se para os que o acompanhavam:

– Vejam, senhores!

E indicando o quadro:

– Quem lucrou no meio de tudo aquilo foi o cavalo!