A regra e a exceção

O governador Beto Richa determinou a extinção de mil cargos em comissão e quatro secretarias no Governo do Paraná. Faltando um ano para as eleições, as extintas secretarias são moranguinhos com nata a serem saboreados sem muita pressa. Já o fim dos cargos em comissão é um aviso prévio de que a ceia de Natal será de pão e água para os mil deserdados da casa. E não se tem conhecimento, até agora, que algum louco varrido tenha procurado o govenador para elogiar a corajosa medida de contenção de despesas.

Conta o jornalista e escritor cearense Lira Neto, autor da formidável e mais recente biografia de Getúlio Vargas, que ao tomar posse como ministro da Fazenda do presidente Washington Luís, em 1926, uma multidão fazia fila no Palácio do Tesouro para alcançar a antessala do gabinete do ministro. Uns queriam o indulto da dívida do fisco, outros um empréstimo salvador da firma arruinada, outros uma promoção na repartição, senhores engravatados pediam de joelhos gordas sinecuras, enfim, o Ministério da Fazenda era o pátio de milagres da República.

Ao contrario do que se esperava, Getúlio Vargas parecia à vontade em face de tantos assédios. Não esboçava o mais leve sintoma de enfado, enquanto os auxiliares de gabinete tomavam nota de tudo. Ninguém deixava de ser ouvido e, com aquele seu sorriso encantador, o recém-chegado dos pampas escutava os pedidos com inexplicável paciência: “Eu escuto atentamente, demonstrando interesse. Mas o que mais me interessa realmente é conhecê-los melhor para saber como tratá-los”, diria Getúlio a propósito da arte – e da artimanha – de dar ouvidos aos interlocutores.

Na audiência de sua chegada ao ministério – conta Lira Neto -, Getúlio foi alvo de uma desconcertante surpresa. Espantou-se quando um indivíduo, que aguardara horas na fila, aproximou-se e, com um gesto de mesura, apenas falou:

– Senhor ministro, eu não tenho nada a pedir. Vim aqui para saudar Vossa Excelência e fazer votos pelo seu êxito nesta difícil pasta!”.

Depois de recebido o último popular e fechada a porta de acesso ao gabinete, Getúlio comentou com os auxiliares:

– Vejam, senhores, entre tantas pessoas, cada qual com o seu caso, só uma apareceu para me saudar, sem nada pedir!

Um dos funcionários, antigo servidor do ministério, explicou o ocorrido ao novo chefe:

– Senhor ministro, aquele cavalheiro é muito conhecido por aqui. Ele sempre faz o mesmo com todos os novos titulares da pasta. O homem sofre das faculdades mentais!