A questão da gênese do “púcaro caiçara” (segundo a paleografia litorânea do historiador Henrique Paulo Schmidlin, o Vitamina) vem dos tempos que em Paranaguá se discutia o sexo dos mariscos. Entre tantas discutíveis questões que fazem do Barreado um prato especialmente temperado para se jogar conversa fora, três delas não podem faltar num feriadão no litoral paranaense.

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Afinal, o Barreado nasceu em Morretes ou Antonina? Com ou sem tomate na receita? Qual a melhor maneira de se fazer um bom pirão?

A polêmica sobre a gênese do Barreado não cabe aqui neste espaço, pois nem mesmo já foram escritos livros suficientes para esclarecer o cisma. Já as questões do tomate e do pirão, vamos aos fatos.

Para a jornalista Rosy de Sá Cardoso, o tomate no barreado é uma heresia. Jamais os nativos do litoral paranaense ousaram botar tomate no barreado. Descendente das principais praças, ruas e avenidas de Curitiba, Rosy tem razões históricas para afirmar que o ketchup virou uma epidemia mundial! Para não falar da batata frita, outra praga desta civilização do sobrepeso.

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Segundo a decana da imprensa paranaense, apesar de ser originário da América Central e do Sul, o Lycopersicun esculentum não pode estar nas origens do barreado, por um simples motivo: somente no século XIX o tomate passou a ser consumido e cultivado. Primeiro na Itália, depois na França e na Espanha. Inicialmente, o tomate era tido como venenoso pelos europeus e cultivado apenas para efeitos ornamentais, supostamente por causa de sua conexão com as mandrágoras, variedades de solanáceas usadas em feitiçaria. Os europeus que retornavam da América levaram ao Velho Mundo a fruta vermelha, que imaginavam ser venenosa.

Além de uma heresia, o tomate é um veneno para o barreado ressalta Rosy de Sá Cardoso, acrescentando: “Só foi incorporado à receita depois das invasões bárbaras em Morretes e Antonina, quando passaram a servir o barreado com camarão à milanesa e peixe frito. Atualmente, alguns puristas já admitem o tomate, conquanto depois de abrir a panela, conforme o mau gosto de cada um”.
Quanto à questão do pirão, feito com farinha de mandioca e o caldo do barreado, a controvérsia teria começado em Porto de Cima, numa festa à beira do Rio Nhundiaquara.

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Contam os antigos que um antigo prefeito do litoral, de origem italiana, tinha o apelido de Pirão, e com justa razão ele não gostava nem um pouco da alcunha. Criado na base da polenta com queijo e lambari frito, odiava pirão do barreado. Mais ainda da gozação que acontecia na hora de se fazer o pirão barreado.

Quando candidato a prefeito, o vulgo Pirão subiu no palanque, com um revólver à mostra, para sinalizar que não iria levar desaforos, muito menos o apelido, para casa. E começou:

– Povo de…

E, lá do fundo, berrou o gaiato:

– Farinha!

De orelha em pé, o italiano reiniciou o discurso:

– Povo de…

Do outro canto da praça, outro gaiato gritou:

– Água quente!

No ato, o candidato, ofendido, puxou do revólver e ameaçou o gaiato que se escondia no meio do povo:
– Se misturar eu mato!