Nos anos setenta, a praia do curitibano era o Passeio Público. Reduto dos urbanistas que fizeram a revolução urbana nos 20 anos que abalaram (ou embalaram) Curitiba. Com Jaime Lerner na ponta da mesa, no bar “Lá no Pasquale” desfilavam todas as celebridades que passavam pelo Teatro Guaíra ou estreavam no Teatro Paiol novinho em folha. Naquelas pranchetas à beira das nossas águas, com Jaime Lerner pedindo bolinho de arroz ao João de Pasquale, a paisagem urbana de Curitiba foi redesenhada e lá nasceram tantas paixões que deram vida a muitos das gerações seguintes.

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Os vinte anos que fizeram de Curitiba um modelo urbano se foram, com eles a praia do Passeio Público ficou na saudade. A mesma saudade de Paulo Leminski, que num dia qualquer daqueles vinte anos deve ter escrito num guardanapo do Passeio Público: “O Rio é o mar; Curitiba, o Bar”. Para a maioria, a orla curitibana se mudou para o Parque Barigui. Uns poucos, como o próprio Jaime Lerner, atravessamos o século procurando no segundo planalto um bar à beira mar.

Em busca do tempo perdido, não foram poucos os botecos testados à prova de uma maresia imaginária. Até surgir no Juvevê o bar e restaurante Paraguassu, com uma praia feita de encomenda para o arquiteto Jaime Lerner. Assim é se lhe parece, dependendo da boa vontade de quem observa o mar curitibano na esquina da rua Paraguassu com a Machado de Assis. Num muro de quase o tamanho da quadra, a paisagem da orla se descortina, depois do primeiro gole, como se no outro lado da rua passasse uma moça do corpo dourado, num doce gingado a caminho do mar.

À boca pequena, dizem que a paisagem à beira mar deve ser demolida, dando lugar ao um desses edifícios com piscina na cobertura. Em nome da nossa imaginação, roga-se à construtora que pelo menos se preserve no tapume a praia do Jaime Lerner.

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