A poderosa

O prefeito de Curitiba, Beto Richa, saiu desta eleição como um campeão de votos, mas a grande vitoriosa foi Fernanda Richa. Roberto Requião, o grande derrotado, tem razão: foi uma força na campanha do marido. Fernanda se saiu tão bem que já não é mais a primeira-dama. Agora é a toda-poderosa.

Para quem acompanhou as entrevistas após os resultados das urnas, pergunta-se de quem é essa frase: “Desejo boa sorte e sucesso ao prefeito e quero dizer que o que eu puder fazer pela cidade eu vou fazer. Espero que o prefeito agora cumpra tudo o que prometeu, especialmente as minhas propostas que ele incorporou ao seu discurso. Manterei minha postura de fiscalização e crítica política”.

A mensagem é de Gleisi Hoffmann, mas poderia ter sido de Fernanda Richa ao chegar em casa, banhada de suor, após as comemorações da vitória. Diria ainda a toda-poderosa ao marido todo prosa:

– E tem mais Beto, eu prometi e agora você vai ter que cumprir!

– Como assim?

– Ora, meu bem: eu não passei todos esses dias num estúdio de televisão falando em teu nome em vão. O que irão dizer os meus eleitores se você não realizar as nossas propostas de governo?

Como qualquer casal, a performance eleitoral de dona Fernanda vai obrigar o casal a “discutir a relação”. Nada será mais como antes, quando a ela cabia fazer “tudo pelo social”e ainda
ter o desprazer de ser tratada simplesmente como primeira-dama, ilustre figurante do marido nas colunas socias.

É por isso que nos corredores da prefeitura já não se discute uma possível reforma no secretariado, ou novos nomes para o alto escalão. A pergunta que se faz é só uma, e é dirigida ao cerimonial do paço municipal: “Na sala de reuniões haverá de ter uma cadeira à altura de dona Fernanda?”.

O governador Roberto Requião resolveu esse problema porque o antecessor Jaime Lerner havia deixado uma cadeira pronta e caprichada para dona Maristela no Museu Oscar Niemeyer. Depois que o nepotismo deixou aquela cadeira incômoda, os decoradores do Palácio das Araucárias estão quebrando a cabeça para achar um assento melhor, é verdade, mas não será isso que vai deixar a competente diretora do museu numa situação desconfortável.

Com Beto Richa foi diferente. À dona Fernanda não foi dada a honra de dirigir o Museu Municipal de Arte, no Portão, muito menos a Fundação Cultural de Curitiba. Ela herdou a sina de primeira-dama, a tradicional incubência de fazer “tudo pelo social”, da FAS (Fundação de Ação Social) aos convescotes beneficentes.

Entretanto, apesar de Roberto Requião ter dito ainda que “a eleição era para prefeito, não para primeira-dama”, Fernanda Richa fez tão bonito na campanha que o marido tem um grande problema para resolver, além de abrir o primeiro buraco do metrô: o que fazer com dona Fernanda Richa?

Pela cultura árabe da família, lugar de mulher é na cozinha, e com um véu cobrindo o rosto. Porém Maomé não é brasileiro e os eleitores vão ficar injuriados se o prefeito cometer tamanho pecado. E que o filho do Zé Richa não ouse obedecer aquele velho provérbio árabe: “Consulte tua mulher e faça o contrário do que ela disse”.

Beto Richa fez 778 mil votos, nas contas do TRE. Como devem ser casados em comunhão de bens, pelo seu desempenho na campanha Fernanda Richa tem parte deste patrimônio. Quem desejar comemorar o Réveillon de 2010 ao lado do ilustre casal vai ter que passar pelo crivo da poderosa.