A paranaense bela e bilionária

“Terminado o expediente, saí à tardinha para um encontro longamente desejado”, escreveu Getúlio Vargas em seu diário, após deleitar-se por algumas horas na companhia de Aimée. A mulher Darcy Vargas estava longe, na Europa, em companhia das filhas Alzira e Jandira.

“Um homem no declínio da vida sente-se num acontecimento destes como banhado por um raio de sol, despertando energias novas e uma confiança maior para enfrentar o que está por vir. Será que o destino, pela mão de Deus, não me reservará um castigo pela aventura deste dia?”.

Em seu caderno de anotações que carregou ao longo da vida, Getúlio Vargas deixou escrito para a história o romance proibido que talvez, pela mão de Deus, o tenha castigado com o suicídio.

Aimée Sottomaior de Sá era o nome da amante de Getúlio Vargas. Nascida em Castro, em agosto de 1903, adolescente foi morar no Rio de Janeiro, onde se casou com um primo distante, Luis Simões Lopes, que era chefe de gabinete de Getúlio.

No segundo volume da biografia de Getúlio, magnífica obra do escritor Lira Neto, vários trechos do caderninho foram transcritos: “Após os despachos, fui ao encontro de uma criatura que, de tempos para esta parte, está sendo o encanto de toda a minha vida” – derramou-se Getúlio. Depois de ter sofrido um atentado no Palácio do Catete, desabafou: “As emoções sofridas e recalcadas precisavam de uma descarga sentimental”.  Mais adiante, Getúlio previa algo de ruim: “Tive uma deliciosa hora. Talvez de despedida”.

Segundo Lira Neto, o marido enfim descobrira que Aimée o traía e, com elegância, enviou uma sentida carta a Getúlio contando que após a separação iria passar uma temporada na Europa.

Numa viagem de descanso com familiares e amigos à famosa estação de águas de São Lourenço, a companhia da amante deixou o baixinho em maus lençóis: “Estou inquieto, perturbado com a presença daquela que me despertou um sentimento mais forte do que eu poderia esperar. Amanhã, talvez, um passo arriscado ou uma decepção. O caminho se bifurca – posso ser forçado a uma atitude inconveniente”.  

O castigo estava vindo a cavalo. Dona Alzira Vargas também descobrira que o marido estava pulando a cerca, numa aventura assim narrada no caderninho do adúltero: “O encontro deu-se em plena floresta, à margem de uma estrada, para que um homem de minha idade e da minha posição corresse esse risco, seria preciso que um sentimento muito forte o impelisse. E assim aconteceu. Tudo correu bem. Regressei feliz e satisfeito, sentindo que ela valia esse risco – e até maiores”.

O caso seguiu sob relativo sigilo, mas um mês depois Aimée revelou a Getúlio que estava de partida do Brasil. Ela viveu certo tempo na França e depois embarcou para os Estados Unidos. Lá se casou com o milionário Rodman Arturo de Heeren, herdeiro das lojas de departamento Wanamaker.

Aimée de Heeren, dona de mansões em Biarritz, Palm Beach, Nova York e Paris, seria eleita pela revista Time, em 1941, uma das três mulheres mais elegantes e mais bem vestidas do mundo, atrás apenas de Wallis Simpson, a duquesa de Windsor.

Aimée Sottomaior de Sá morreu em setembro de 2006, com 103 anos. Deixou uma fortuna incalculável. Um escritório de advogados do Rio de Janeiro foi contratado para assessorar um grupo de brasileiros beneficiários do testamento que até agora não viu a cor do dinheiro. Cerca de 50 pessoas e entidades, no Brasil e no exterior, foram incluídas no testamento da Bem-Amada de Castro.