No vale tudo desta Copa América, é atroz a diferença entre o futebol da América Latina e o futebol europeu. É a paixão versus a eficiência.
Especialmente para quem ainda não se recuperou da vergonhosa goleada que o Brasil levou da Alemanha – fracasso que vai ficar na história do Brasil no mesmo capítulo dedicado à Petrobras -, é de se perguntar: onde você estava no dia 4 de julho de 1954, quando a Alemanha Ocidental ganhou da Hungria por 3 a 2 e ganhou a Copa do Mundo em Berna?

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De Berna a Belo Horizonte, foram 60 anos suando a camisa para os alemães humilharem os brasileiros no Mineirão. Hoje a Alemanha é a prima-dona entre as nações europeias, mas nem sempre foi assim. Eles já levaram muitas bolas nas costas. Nas primeiras décadas do pós-guerra, os jogadores de diferentes países europeus só ficavam conhecidos depois de bailar com os dribles cinematográficos do Garrincha. Fato extraordinário aconteceu em 1957,quando o atacante galês John Charles fez história ao deixar o Leeds United para se juntar à Juventus de Turim pela assombrosa quantia de 67 mil libras. Até o final da década de 60, era muito raro um clube contratar um craque de outra nacionalidade.

O extraordinário Ferenc Puskas, depois de fugir de Budapeste para jogar no Real Madrid, era praticamente desconhecido fora do seu país – de tal forma que em 1953, quando Puskas comandou a Hungria na primeira derrota da seleção inglesa em casa, os jogadores ingleses diziam antes de começar o jogo: “Olha só aquele gorducho… vamos dar uma goleada!”.

Uma geração mais tarde, viraram estrelas de futebol. Não necessariamente os jogadores mais talentosos, mas desempenhavam um papel até então reservado aos artistas de cinema e aos membros da realeza. De tão popular, havia quem sugerisse que o futebol substituía não só a guerra, mas também a política.

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É esse fenômeno europeu que hoje faz a grande diferença no futebol mundial. Não estamos vendo mais em campo socialistas versus capitalistas; proletários versus patrões; imperialistas versus revolucionários. Frente a frente, a paixão versus a eficiência. E por enquanto o placar é de 7x 1 para os mais competentes.