A olimp

O Bar do Popadiuk é de tradição no Bigorrilho. O tamanho ideal de um bar é do tamanho do seu dileto bar, e o do Popadiuk é uma garagem em frente à velha residência da família. Entre um e outro “zrazy” (bolinho de carne à moda da casa), apareceu o polaco Stacho para jogar conversa fora. O assunto não podia ser outro: as Olimpíadas.

Stacho tem uma mania de boteco: não gosta de cadeira, puxa um engradado vazio de cerveja e senta para conversar. As histórias dele são famosas. Certo dia estava o polaco acomodado no engradado, quando o filho mais velho entrou correndo no Bar do Popadiuk:

– Pai, a “tesciowa” (sogra) moréu!
O velho Stacho foi ao balcão, voltou com uma cerveja na mão e acabou com o silêncio que se fez no boteco:

– Então sentando um pouco aqui, tomando mais uma garafa… e depois a gente caindo no chorradeira!

Justamente sobre esse tema entabulamos conversa no Popadiuk, quando lhe perguntei:

– Stacho, o que você está achando dessa olimpíada em Pequim?

– Tudo muito bonito, muito caprichado, mas no meu ver está faltando uma modalidade para o Brasil trazer outra medalha de ouro.

– Halterocopismo?

– Também. Mas no meu ver devia ter na olimpíada disputa de chorradeira! Nem italiano, nem ninguém, no derramamento de lágrima brasileiro é ouro garantido.

– Das modalidades esportivas, qual você gosta mais.

– Briga de faca! Desde Polônia, meu avô era campeão de briga de faca no Cracóvia. Um fica espetando outro, dando pulinho pra desviar do espeto.

– Seria a esgrima?

– Assim sendo o nome. Ieu achando bonito aquele uniforme com máscara de tirar mel de abelha.

– E o judô?

– Uma pouca vergonha sendo: aquela mulherada do judô não sabendo pregar botão na roupa. Ficando tudo solto, aquele casacão pra fora da calça, amarrado no barriga com pedaço de pano preto. E ganha quem faz cara mais feia pra outra.

– Não seja por isso, as mulheres estão fazendo bonito em Pequim.
– Outra pouca vergonha. Onde já se viu mulher jogando futebol e homem fazendo pirueta?

– A Fabiana Murer é um espetáculo para os olhos.

– Aquela do pulo com bambu? Bonita sendo, merecendo uma surra de vara o chinês que roubou sarafo dela. Não fosse isso a moça era capaz de abrir um buraco no céu.

– Quais os outros esportes você tem acompanhado?

– Ieu gostando muito ainda do jogo de bolinha branca pra cá e pra lá.

– Tênis de mesa!

– Também gosto de ver a corrida de cavalo pulando cerca.

– Stacho, para quem você torce: brasileiros ou polacos?

– Eu torcendo para Konrad Wasielewski, Adam Korol, Micha? Jeliski e Marek Kolbowicz, a polacada que ganhou ouro remando canoa.

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Depois de uma dúzia de “piwo” (cerveja) e uma travessa de “zrazy”, o polaco Stacho nos confessou que planeja realizar no Bigorrilho a primeira “OlimPiwo”. A olimpíada da cerveja, cuja principal prova atlética seria uma corrida de duplas carregando engradados de cervejas cheias, com a largada na Costelão do Nike e chegada no Bar do Popadiuk. Ganha o ouro a dupla que beber todas do engradado, durante o percurso e no menor tempo.

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 Stacho mora na Rua “Bicho bom bicho ruim” (Carneiro Lobo). É muito amigo de Nicolau Klupel, engenheiro que inventou o Parque Barigüi, que uma vez perguntou ao polaco:

– Stacho, como foi mesmo que começou a revolução de 64?

– Essa revolução de 64 começou quando Jânio Covadros (Quadros) foi ver parada de soldado. Soldado ponhou facão no barriga dele e disse: “Melhor se arrancar! Fala que foi força oculta! Se conta outra história vai se arrepender!”. Aí foi quando Jânio Covadros pegou o boné e se arrancou!

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Ao me despedir do Popadiuk, fiz uma última pergunta ao polaco Stacho:

– Do fundo do coração, o que você daria para o nosso Diego Hypólito? Uma medalha de ouro, prata ou bronze?

– Sendo bem sincero, do fundo do coração, ieu dando pra menino que caiu com bunda na chão uma medalha da Nossa Senhora de Czestochowa de Jasna Góra.