Como parte do “Festival dos 60 anos da morte de Getúlio Vargas”, — e que nos sirva de lição para as Olimpíadas do Rio de Janeiro —, o escritor Lira Neto conta no segundo volume de sua biografia de Getúlio (1930/1945 – Do governo provisório à ditadura do Estado Novo) a vergonhosa participação do Brasil nas Olimpíadas de Los Angeles, em 1932.

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Com as arquibancadas vazias do campo do Fluminense, Getúlio se despediu dos 82 atletas com rápido discurso de cunho patriótico e desejou votos de sorte — o que era tudo o que o governo tinha para oferecer à delegação brasileira.

A crise econômica impossibilitara maiores investimentos no preparo da comitiva. Uma parcela das despesas da viagem até Los Angeles seria custeada pela venda de selos comemorativos na sede da Confederação brasileira de Desportos (CBD) e de exemplares avulso do “Jornal dos Sports”.

O grosso da conta — lembra Lira Neto – deveria ser pago com a negociação das 55 mil sacas de café dos estoques governamentais que seguiriam no porão do “Itaquicê”, navio encarregado de transportar os atletas até Los Angeles. A transação teria que ser realizada pela própria delegação esportiva, durante as escalas da viagem marítima.

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Como sinal maior do improviso e do “jeitinho brasileiro”, a embarcação zarpou disfarçada de vaso de guerra, com a intenção ludibriar as restrições alfandegárias internacionais. Dois canhões cenográficos foram instalados nos convés onde os atletas fariam seus exercícios matinais. Se a simulação desse certo, o “Itaquicê” ficaria isento das pesadas tarifas aduaneiras.

Pena que a “malandragem” não deu certo. Dali a alguns dias o navio seria retido pelas autoridades do Panamá sob suspeita de contrabando. Depois de constrangidos de desculpas telegráficas do governo brasileiro, a viagem prosseguiria, mas não havia jeito de encontrar clientes para o café amontoado nos porões. Com o café a preço de banana, em função da crise mundial, a questão passaria a ser como custear a hospedagem da equipe brasileira nas instalações da vila olímpica.

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— Novamente o “jeitinho brasileiro” não deu certo. No final das contas, os atletas–mascates retornaram para casa sem nenhum ouro, prata ou bronze como lembrança da Olimpíada de Getúlio Vargas. E com uma montanha de café no porão do navio.

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Prosseguindo com o “Festival dos 60 anos da Morte de Getúlio Vargas”, conheça amanhã a belíssima e bilionária paranaense que foi amante do caudilho gaúcho.