A Oktoberfest que n

Se inveja mata, enterrem nossos corações na fábrica da cerveja Original, em Ponta Grossa. Assistindo de longe à fuzarca da Oktoberfest, nos indagamos: o que será que Blumenau tem que Curitiba não tem? A resposta está no destino que deram aos imigrantes alemães que chegaram ao Brasil.

Em Santa Catarina, a colonização alemã começou em 1828. No Paraná em 1829, reforçada com os muitos alemães de Joinville que depois se transferiram para Curitiba.

Os germanos fundaram no Sul do Brasil algumas das cidades mais progressistas, mas nenhuma delas tão festiva quanto Blumenau. Se a origem, a língua e a cultura são as mesmas, por que só em Blumenau a Oktoberfest deu certo?

Que nos desculpem os antropólogos, mas eles conhecem da história apenas o que está nos livros. Existe uma explicação para as origens festivas de Blumenau. E, por extensão, a razão pela qual Curitiba não é afeita aos costumes de Munique, muito menos ao Carnaval.

O culpado foi o chefe da alfândega do Governo Imperial. Um português moralista que separava os imigrantes conforme o ramo de atividade e os bons costumes. Quando desembarcavam dos navios, o burocrata interrogava um por um e, assim, encaminhava os recém-chegados.

No Porto de São Francisco, sob o sol tropical, a fila de imigrantes era grande. Na sombra do cais, o funcionário da Corte perguntava:

– Profissão?

– Cervejeiro.

– Vai para Blumenau!

O alemão assinalava o destino, o português sinistro carimbava o documento e chamava o seguinte:

– Profissão?

– Professor de matemática.

– Pode escolher: Joinville ou Curitiba?

Esse era o critério: engenheiros, farmacêuticos, cirurgiões-dentistas, pedreiros, marceneiros ou qualquer outra profissão de utilidade para o progresso da Coroa Portuguesa tinham como opção Joinville ou Curitiba.

O resto era recolhido para Blumenau: gaiteiros, maestros, professores de música, cantoras e cantores de ópera, pintores, poetas, dançarinas, atores e atrizes, malandros e as mulheres de vida airosa também.

Se Richard Wagner, o maestro e compositor, tivesse imigrado iria para Blumenau. Ferdinand Porsche, o inventor do Fusca, seguiria para Curitiba.

Nem todos os alemães, graças a Deus, obedeceram às ordens do português e restaram em Blumenau. O jornal Dezenove de Dezembro, primeiro do Paraná, registrou que alguns deles fugiram para Curitiba.

– A 10 de abril de 1869: “Ernesto Schmidt, professor de colégio, dá também lições de piano, canto e desenha em casas particulares.”

– A 17 do mesmo mês e ano: “VINAGRE SUPERIOR. Vende-se em casa do cervejeiro João Leitner, na Rua das Flores.”

Este último anúncio do Dezenove de Dezembro justifica perfeitamente a Oktoberfest que não temos, e nem poderíamos ter: nossos cervejeiros eram vinagreiros de marca superior.