A Noite da Bicicletada

Justamente no “Dia Sem Carro”, o calendário brasileiro de “abobrinhas” registra também a data como sendo o “Dia da Banana”, o que deveria ser a data magna da nação. Coincidentemente, para cumprir as efemérides, o povo das ruas comemorou mandando uma solene banana à campanha mundial pela melhoria da circulação urbana.

“Aqui, ó!” – disse o estressado na saída da garagem, a caminho do trabalho, enquanto o resto da família, cada um no seu carro, foi tratar da vida. Naquele mesmo momento o prefeito de Curitiba, Beto Richa, bem faceiro, desembarcava de um ônibus Ligeirinho na frente da prefeitura.

Meritório o exemplo do alcaide, mesmo sabendo que jogou fora o dinheiro da passagem, porque a fotografia no jornal vale por mil palavras; e não saem a preço de banana mil palavras em corpo 12 na página impressa do dia seguinte.

O belo gesto de Beto Richa é, bem verdade, não foi recebido com unanimidade, pois há quem espere do prefeito atitudes mais radicais: ir trabalhar a pé, de guarda-chuva e galocha, ou de bicicleta. Nesse caso, assumindo definitivamente o palanque de candidato a governador, instaurar exatamente o que o prefeito de Blumenau João Paulo Kleinübing inaugurou ontem, para marcar “O Dia Sem Carro”: o sistema municipal de aluguel de bicicletas, nos mesmos moldes de Paris, com locação “one way”, com vários postos de retirada e entrega das bicicletas pela cidade.

É bem verdade que o sistema do Kleinübing, exatamente igual, é em parte inviável para Curitiba. Em Blumenau, presume-se, o sistema é experimental e deverá entrar em operação definitiva somente no próximo mês, quando por ocasião da OktoberFest as bicicletas já estarão circulando com um pequeno barril de chope no bagageiro.

Tomara que as bicicletas de Blumenau (com barrilete ou sem barrilete no bagageiro) deem certo. E vamos torcer para que o sistema “one way” um dia ainda possa ser implantado em Curitiba. Mesmo que, para tanto, no ano que vem, o prefeito (será o Luciano Ducci?) tenha que desapropriar a metade das revendedoras de automóveis da cidade para sobrar espaço às ciclovias.

Se nada houver de novo, que pelo menos no próximo “Dia Sem Carro” não nos falhe a nossa “Lady Godiva” de bicicleta, a desnuda mocinha da cidade que no ano passado pedalou nua pelas ruas centrais de Curitiba, numa noite de 15.ºC. Lembra? Nossa heroína de seios ao vento mostrou naquela “Noite da Bicicletada” tanta nobreza quanto Lady Godiva, a justiceira inglesa. Fez da própria nudez uma representação da singeleza e simplicidade da bicicleta.

Repito o que escrevi em 2008.

A beleza de nossa Lady Godiva não está apenas na fotografia em preto e branco de Lineu Filho, nas curvas seguras da coxa generosa, na sensualidade que os braços firmes insinuam, ou no fetiche do selim como pedestal erótico. Belo é o olhar sereno da valente Godiva de cabelos encaracolados, como se o brilho do olho lançasse da cabeça erguida um desafio aos pávidos:

– Nós estamos transparentes, vocês estão pelados!