O bom da democracia é que, de dois em dois anos, a “Síndrome da Nau dos Últimos Dias” assombra os governantes em final de mandato.

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A síndrome foi assim batizada porque todos os pesadelos foram descritos pelas vítimas da mesma forma: uma sinistra nau abandonada a rondar o palácio, em ziguezague, como se o timoneiro estivesse bêbado e os porões abarrotados de rum.

De origem latino-americana, a assombração baseia-se num dos maiores enigmas do Triângulo das Bermudas, o desaparecimento da tripulação da nau pirata chamada “Dreams”. O inacreditável sucedeu em 1875. A cerca de 100 milhas a leste de Cuba, o vigia do pequeno veleiro “Caxanga” anunciou que uma nau se aproximava a bombordo. Nada estranho nisso, a não ser que a “Dreams” estava com as velas desajustadas e navegava sem prumo, em ziguezague, como se o timoneiro estivesse bêbado. Depois de inúteis tentativas de contato, alguns tripulantes do “Caxanga” tomaram um escaler e alcançaram “Dreams”. Perplexos, descobriram que não havia ninguém a bordo, vivo ou morto. A nau apresentava perfeitas condições de navegação, sem nenhum sinal de arrombamento ou destruição. A carga do “Dreams”, constituída por preciosos barris de rum cubano, estava igualmente intacta.

Que mistérios aconteceram naquela nau? O que teria levado os piratas a abandoná-la e, o mais intrigante, como se deu o abandono, comprovado que nenhum dos tripulantes foi encontrado?

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Não foram poucas as versões que surgiram para o mistério. Uma delas foi adaptada em filme mexicano: um pirata da “Dreams” teria caído ao mar durante terrível borrasca. Um segundo pirata, que estava ao lado, mergulhou a fim de salvar o comparsa. Um terceiro pulou na água para socorrer os dois primeiros, depois um quarto, um quinto e um sexto, assim, conforme a hierarquia. Por fim, o próprio capitão teria mergulhado para ajudar seus homens. A cena final do filme mexicano é trágica: em ziguezague a nau singra os mares do Caribe, enquanto os piratas, escoltados por tubarões, trocam olhares incrédulos de terror.

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Portanto, um aviso aos navegantes: se alguém avistar a sinistra embarcação abandonada a rondar o triângulo do Centro Cívico, toda calma nessa hora: é a nau dos últimos dias.