A morte do compadre e o choro da comadre

Luciana Worms que me desculpe, mas vou tentar resumir uma incrível história contada por ela na Gazeta do Povo de sábado passado. Contou a advogada, radialista, professora e escritora premiada que, por ocasião dos 50 anos de seu assassinato, o presidente John Kennedy e a primeira dama Jacqueline foram muito lembrados no Nordeste. Especialmente por aqueles que conheceram uma mulher chamada Severina e seu filho Kendinho.

Na grande seca de 1961, Severina foi mãe e registrou o filho com o nome de Kennedy. Como todas as mães, queria uma vida melhor para o menino. Na busca por uma vida não assim severa, ela botou na cabeça que o próprio presidente dos Estados Unidos seria padrinho de batismo da criança: “Afinal – conta Luciana – os Kennedy eram católicos como ela. Tanto fez, tanto fez que conseguiu! Conseguiu que o padre da paróquia local redigisse todos os papéis para que o pedido fosse feito e remeteu, pela empresa pública dos Correios, a documentação para que Kennedy assinasse e assim aceitasse Kendinho como afilhado. E o presidente o fez. Não se sabe se de forma consciente ou se simplesmente assinou o compromisso de batismo católico em meio a cartas, cartões de felicitações. O fato é que nossa pobre senhora recebeu exultante os papéis que comprovavam o laço e assim pôde exibir a todos da cidade sua conquista (até porque a esmagadora maioria analfabeta jamais poderia conferir a veracidade da documentação). Ela não era uma louca pretensiosa como muitos a chamavam. Sua perseverança a colocou próxima do ídolo mais do que qualquer um naquele fim de mundo seco e esturricado”.

Quando Kennedy foi baleado, em novembro de 1963, cidade parou para levar as condolências à dona Severina, a “parente” mais próxima do presidente. Ela recebeu a todos numa choradeira que durou dias, meses, quando uma amiga mais próxima chamou Severina às falas:

– Mas mulher, já tá na hora de você parar de chorar! Você nem conheceu de perto o tal do Kennedy!

E a mãe de Kendinho, fungando, respondeu:

– Não choro por mim. Choro por cumádi Jaqueline!