Folheando um álbum fotográfico publicado em comemoração ao Centenário do Paraná, essa curiosa imagem assim legendada: “Um restaurante rústico em Curitiba”. Devia ser o que chamamos hoje de um “restaurante temático”, inspirado naquele Paraná de 1953, quando os pioneiros alimentavam o futuro à sombra da natureza.

continua após a publicidade

Tão curioso quanto a imagem do restaurante é o apanhado fotográfico do Centenário. De bom formato (22×28), o álbum em preto e branco acolhe imagens de todo o Paraná. De Curitiba, além das mais ricas residências, a paisagem urbana hibernal. De Londrina, os retratos que parecem saídos dos livros de Domingos Pellegrini e, na capa, aquela fotografia que virou símbolo do “ouro verde”: duas mulheres de imensos chapéus, com suas peneiras lançando grãos de café ao alto.

Curiosa ainda é a edição: na capa, apenas duas palavras: Paraná Brasil. Na página de rosto, ao lado de uma foto da então sossegada Praça Osório, o ano da publicação: 1953. E daí em diante, fotos com mínimas legendas, e nada mais. Sem texto de apresentação, qualquer identificação dos editores e, o que é lamentável, sem os devidos créditos das fotografias.

Mas porque hoje é sexta-feira, véspera da maratona gastronômica de sábado e domingo, vendo o retrato do “restaurante rústico” garrei a imaginar o cardápio.

continua após a publicidade

Nas paredes vazadas de troncos leves, uma pele de veado, parece, e a outra de onça; o que nos leva a crer que neste restaurante tenha nascido a “carne de onça”, este nosso típico acepipe de Curitiba. Sobre a mesa, uma gasosa (Cini, com certeza) e uma cerveja: mesmo sem aparecer o rótulo, podemos apostar que é a própria cerveja Original, de Ponta Grossa.

Vejamos os pratos do dia: paca, tatu, cutia também. Em 1953, os bichos corriam em bandos ali no Barigui, a passarinhada voava para as frigideiras de Santa Felicidade, os lambaris vinham em balaios do Rio Ivo e cachorro se amarrava com linguiça. Portanto, tenho por mim que o casal da foto pediu de entrada “carne de onça”, seguida de polenta com fritada de sabiá, tendo como fundo paca assada no forno a lenha. De sobremesa “sagu com creme”, como sempre foi e será.

continua após a publicidade

Algumas outras suposições do cardápio, tendo como referência a lenda de que o curitibano era uma estranha tribo que se alimentava de pinhões e o testemunho do escritor Fernando Pessoa Ferreira, na crônica Curitiba, a fria, na qual recomenda o Bar Cinelândia, com seus “camarões inenarráveis, colhidos horas antes nas mornas águas da baía de Paranaguá”, ou uma sopa de tartaruga a caráter, ou um filé de jacaré. Já no Espeto do Bacalhau, a coleção de saladas e frios abria uma extensa variedade de carnes no espeto, tudo encerrado com um galeto bem tostadinho.

Ao pedir a conta, fica a pergunta aos contemporâneos do centenário do Paraná: qual seria o nome e o endereço deste restaurante rústico de 1953?