A propósito da antiga Carioca do Campo, que os ufanistas da Guerra do Paraguai mudaram para Rua Riachuelo, a vereadora em Curitiba, Julieta Reis, nos informa que a fila do batizado viário andou. Antes na senha 350, agora a lista de espera está no número 44. Mesmo assim, o projeto que prevê uma rua para Dercy Gonçalves entrou para os anais da galhofa.

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Segundo Julieta Reis, a fila dos nomes de rua andou célere nas últimas semanas graças a uma série de inaugurações de conjuntos habitacionais da Cohab, que abriu novas vagas para ilustres aposentadorias nas esquinas da cidade. O arquiteto Julinho Pechman, que se foi na segunda-feira, já tem a senha 45 e, com parecer da própria vereadora, terá o seu justo posto na história.

O projeto de lei que previa que uma das ruas de Curitiba recebesse o nome de Dercy Gonçalves foi aprovado em primeira discussão pelos vereadores da cidade, em março passado, e trouxe à superfície o grande número de projetos de lei para criar novos nomes de rua. E são tantos os pedidos para entrar na galeria das ruas que a fila só reforça a imagem do vereador como um estafeta de vaidades. Para tentar mudar essa caricatura, a câmara municipal imagina uma proposta para que cada vereador apresente, no máximo, três projetos de lei com nomes de rua (hoje o limite é 24 para cada vereador) por ano. Mais ainda: a maioria também concorda com a criação de uma comissão para analisar que personalidades poderiam ser homenageadas com títulos de Cidadão Honorário de Curitiba.

E se for o caso de passar pelo crivo dessa mesma comissão de notáveis as propostas dos nomes de rua, desde já lanço o nome do jornalista Carlos Alberto Pessôa para presidente do júri. Nêgo Pessôa, o maior especialista em becos, ruas, alamedas, avenidas e travessas de Curitiba, está inclusive finalizando um livro chamado Travessas & Travessias, com prefácio desenhado por Jaime Lerner, fotos de Tânia Buchmann e Charly Techio, projeto gráfico de Miran.

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Para uma questão assim polêmica, um polemista com a cultura de Nêgo Pessôa: além de ter sido um dos melhores amigos de Jamil Snege (nome que proponho em substituição à Rua Riachuelo, de sinistra referência à Guerra do Paraguai), “El negro” Pessôa de Irati bem conhece a polêmica história da menor avenida do mundo, a Avenida Luiz Xavier.

Para os que estão chegando agora, esclarecemos que a menor avenida do mundo é aquela da Boca Maldita. Nascente da Rua das Flores, a quadra da Praça Osório até a Ébano Pereira e Travessa Oliveira Belo tinha o nome Luiz Xavier: primeiro prefeito reeleito de Curitiba, o coronel Luiz Antônio Xavier (1856/1933) ganhou nome de rua ainda vivo, devido à sua popularidade. Não era um técnico, de urbanismo nada entendia, mas era extremamente simpático e administrava a cidade com se cuidasse do jardim de sua própria casa. Foi ele que conseguiu, quando pareceu inviável, alinhar a Rua XV de Novembro à Praça Osório, transformando um alagadiço em espaço integrado.

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Nome de rua ainda vivo, ainda vivo viu seu nome jogado na lama: quando Getúlio Vargas assumiu o poder, com poderes de tirania, em 1930 os capachos getulistas desalojaram Luiz Xavier e encimaram João Pessoa, companheiro de chapa de Getúlio assassinado na Paraíba. Luiz Xavier sentiu-se ferido. A menor avenida do mundo, portanto, ficou denominada Avenida João Pessoa por mais de vinte anos.

Como conta o historiador Valério Hoerner Júnior, “Morre Getúlio. Dia fatídico para o país. De qualquer maneira, não havia mais por que alimentar sujeição ao sorriso do velhinho. Uma iniciativa bairrista da Câmara, então, sem alarde mas com valentia, devolveu João Pessoa ao solo paraibano e reinvestiu o ex-prefeito na função que com tanta galhardia desempenhara”.

Foi uma injustiça reparada. Falecido em 1933, Luiz Xavier não assistiu à reabilitação de seu nome jogado no olho da rua.