A marcha dos Furibundos

A família Derrier começou a fabricar papel higiênico na França. Ao se refugiar no Brasil depois de uma desastrada aventura amorosa, o parisiense Henri Derrier ficou entusiasmado com a ideia de montar uma fábrica de pó de banana em Morretes. Dizia-se então em Antonina: “Onde já se viu, pó de banana? Se fosse cachaça em pó o produto não encalharia na prateleira”. Desanimado, Derrier partiu para novos negócios. Em Marechal Mallet, região de colonização eslava, montou uma fábrica de pieroge em conserva. A ideia era boa, o mercado abundante, tinha tudo para dar certo, mas não deu. O erro mercadológico estava no rótulo e na receita: “Pieroge Derrier, com ingredientes tipicamente franceses”.

De Marechal Mallet, cheio de dívidas, Henri Derrier voltou às origens familiares com uma fábrica de papel higiênico em Curitiba, e assim tocou a vida. Uma vida que sempre foi um inferno graças à inflação e aos sucessivos planos econômicos que não deixavam nem mesmo um fabricante de papel higiênico fazer suas necessidades em paz. Indignado com a praga de impostos e a moléstia da corrupção, Henri foi morar em Guaratuba e passou o papel higiênico para seu filho único, de nome Furibundo.

Casado com dona Pureza, de tradicional família da Lapa, Furibundo tem quatro filhos: Nauseabundo trabalha na fábrica; Meditabundo é advogado; Moribundo, coitado, é professor; e Vagabundo é poeta, escritor e compositor, pessoa física dependente de mecenatos públicos. Com tal currículo, Vagabundo até já incursionou pelo jornalismo, mas pediu demissão depois de passar um mês cobrindo os bastidores da política.

— É de vomitar essa tua reportagem sobre a eleição no Tribunal de Contas! – resmungou Nauseabundo.

— Vomitar por quê? Escrevo tão mal assim? – respondeu o desolado Vagabundo.

— Nem tanto. Fabricar papel higiênico não é uma profissão tão asquerosa!

Sem nenhum preconceito com a imprensa, sempre que Nauseabundo abre um jornal ou uma revista ele tem esse tipo de reação. Já na primeira página, o comentário é pontual: “Isso está me cheirando mal! O fedor da corrupção ainda vai acordar esse gigante adormecido”.

Na semana passada, os Derrier foram vistos distribuindo toneladas de papel higiênico no Centro Cívico.

– Alguém nesse país precisa atender às primeiras necessidades do poder! – bradavam eles.  

Reduto da classe média, os vizinhos arregalaram os olhos ao ver os Furibundos em marcha, limpando com o papel higiênico o rastro dos manifestantes mais exaltados.

– De pai pra filho desde a Revolução Francesa – ensinam os Derrier -, nossa família aprendeu a ganhar dinheiro com os revoltosos: quando a massa ignara sai às ruas, todo papel higiênico é pouco.