A Maldição do Penacho

Primeiro foi Mário Andreazza. No tempo da ditadura, quando esteve no Alto Xingu participando de um Quarup, a maior festa indígena, o ex-ministro do Interior posou para fotografias com um cocar de cacique na cabeça. Dias depois morreu em Brasília.  

Candidato a presidente da República, Ulysses Guimarães deixou que botassem na sua cabeça um vistoso penacho e até hoje não se sabe onde foi parar o helicóptero que com ele e dona Mora caiu no mar. O cacique do PMDB foi para o beleléu ao lado do ex-ministro Severo Gomes.  

Não se sabe com quem começou a Maldição do Penacho. Seja com Ulysses ou com Andreazza, mas desde Pedro Álvares Cabral desconfia-se que de alguma forma os feiticeiros indígenas haveriam de se vingar dos caciques brancos. Os historiadores nunca se preocuparam com tamanha bobagem, jamais trataram de pesquisar se Getúlio Vargas algum dia botou na cabeça o maldito penacho.       

Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo sendo corintiano, nunca foi supersticioso. No entanto, na semana passada, visitando a Amazônia, fez questão de botar na cabeça um cocar de penas azuis. Ao seu lado, a presidente Dilma deixou que botassem outro cocar azul em sua cabeleira e assim os dois saíram na fotografia. No dia seguinte, Dilma ficou gripada, precisou cancelar compromissos e Lula viu seu Corinthians por pouco não perder para o lanterna Avaí.

Como não se pode crer que uma das causas do tumor na laringe tenha sido o cocar de penas azuis, além do tabaco e do álcool, fui consultar o nosso especialista em assuntos trágicos e esotéricos. Segundo o Jaguara, o Animador de Velórios dos Campos Gerais, se Deus quiser Lula vai sair desta porque o que não lhe falta é tenacidade para superar momentos assim difíceis:

– Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Apesar do José Sarney nunca ter colocado um cocar na cabeça, não podemos acreditar na maldição do penacho. Mesmo assim, não custa bater na madeira três vezes, rezar uma Ave-Maria e um Pai Nosso e pedir a bênção dos Capuchinhos na igreja das Mercês.