A maldição do Manda Chuva

Num só dia, Curitiba esgotou a metade de sua cota de chuva – e paciência – para todo o mês de julho. O que choveu no domingo superou a média histórica de 100 milímetros. Não podemos comemorar, portanto, este belo sol de inverno que nos confortou na segunda-feira, pois temos ainda 44 milímetros neste mês de julho.

Como bem sabemos, Curitiba e São Pedro nunca se deram muito bem. Há quem sustente que essa antipatia de São Pedro nos levou a receber injustamente o título de “segundo maior penico” do Sul do Brasil, sendo Joinville o “primeiro urinol”.  

Desde as priscas eras de sua fundação, em Curitiba não chove por causas naturais. Chove por desgraça. Desgraça que teria começado no século XVII, quando o cacique Tindiquera, o Touro-Sentado dos pinheirais, rogou uma praga que nem mesmo o Papa João Paulo II conseguiu neutralizar.

Tudo começou quando os caras-pálidas de Paranaguá ouviram dizer que nos banhados da nascente do Rio Iguaçu haveria muito ouro e pinhão. A corrida serra acima foi grande. Ao chegar nesse planalto então pertencente aos mosquitos e aos índios tingui do cacique Tindiquera, os aventureiros se instalaram nas margens do Rio Atuba, pensando que naqueles charcos encontrariam mais ouro do que nas Minas Gerais.

Insistentemente assediado pelos brancos que queriam porque queriam se mudar das margens do Rio Atuba para um lugar mais saudável, depois de muitas negociações Tindiquera decidiu ceder parte de suas terras altas para a povoação. Com os caras-pálidas atrás, em fila indiana, o cacique caminhou até onde é hoje a Praça Tiradentes e ali parou. Olhou para um lado e outro, observou a direção do vento e, de repente, fincando no chão a sua lança, disse a famosa e misteriosa frase:

Táki-Keva!

E, sem ao menos se despedir, o cacique desapareceu entre os pinheirais.

Os povoadores brancos ficaram com a pulga atrás da orelha. O que Tindiquera quis dizer? Como não havia nenhum tradutor presente, chegaram à versão óbvia:

– É aqui!

No dia seguinte os colonos consultaram um tradutor tingui, que revelou o mistério:

Táki-Keva quer dizer o seguinte: é aqui que um arquiteto vai fazer o resto!

Tindiquera foi o primeiro urbanista de Kur’yt’yba, um arquiteto sem diploma cujo maior sonho era ser prefeito daquela nascente vila. Como nunca os colonizadores deixariam os tinguis elegerem pelo voto secreto um prefeito de sua própria gente, nas terras de seus ancestrais, certo dia Tindiquera foi se queixar ao bispo:

– Vocês brancos que escolham: ou querem um cacique prefeito, ou um prefeito Manda Chuva?

E assim começou a maldição: mandaram Tindiquera plantar batatas lá para os lados de Contenda, Mandirituba e Quitandinha. E para prefeito da Vila de Nossa Senhora dos Pinhais nomearam um Manda Chuva!