Quais teriam sido os melhores anos do século 20? Alguns disseram que teria sido na primeira década, em Viena, até o assassinato em Saravejo do arquiduque do Império Austro-Húngaro, Francisco Ferdinando. Muitos acham que foi Paris em festas, entre o fim da Primeira Guerra Mundial e o início da Segunda. Ou seria a década de 1950, no Rio de Janeiro, quando bastavam um banquinho e um violão para saber que tristeza não tem fim, felicidade sim?
Ao acabar de ler a biografia de Brigitte Bardot, de Marie-Dominique Lelièvre, saí quase convencido de que o período do pós-guerra em Paris, de 1948 a 1968 – os vinte anos em que Deus criou as iniciais BB -, teriam sido os mais cinematográficos, musicais e sensuais do século passado. E, tendo como fecho 1968, os mais rebeldes daquela geração de garotos que amavam os Beatles, os Rolling Stones e Brigitte Bardot – a mais autêntica filha do seu tempo.
Depois da II Guerra, a sociedade francesa foi virada de ponta-cabeça. Passa por uma metamorfose estampada nas páginas das revistas, tendo Brigitte Bardot como a imagem propulsora da segunda revolução francesa. Sacudido em suas raízes milenares, um velho país católico e rural se transforma num país urbano e industrial do dia para a noite: o hábitat, as roupas, a família, os princípios, as próprias palavras, nada mais seria como antes depois da primeira entrevista coletiva ao lado do primeiro namorado e diretor Roger Vadim:
– Qual foi o dia mais belo de sua vida?
BB: Uma noite!
– Qual a personalidade que mais admira?
BB: Sir Isaac Newton. Ele descobriu que os corpos podem se atrair.
Os jornalistas ficam olhando para ela, hipnotizados.
– Por que não usa batom?
BB: Porque deixa marcas!
Um editor da imprensa inglesa cria então a expressão “sex kitte”. Gatinha quente. O sexo, a libido, o pedaço de carne, a inocência, um animal tépido, terno e brincalhão como um gatinho.
– Qual foi a pessoa mais imbecil que já conheceu?
BB: Você por me fazer uma pergunta tão imbecil!
– Qual o seu filme preferido?
BB: O próximo!
– Que gosta de fazer na vida?
BB: Não fazer nada!
– Que acha do amor livre?
BB: Nunca acho nada quando faço amor!
– O que mais a atrai num homem?
BB: Sua mulher!
Além das anônimas mulheres com quem dividia o leito do marido Roger Vadim, a autora da biografia fez um rol das “vítimas do furacão” assim visto por Andy Warhol: “Brigitte Bardot foi uma das primeiras mulheres realmente modernas a tratar os homens como objeto amoroso, comprando-os e os descartando”.
Das coisas que as outras mulheres mais gostam em Bardot eram os seus amantes. Sua vida amorosa era uma árvore cheia de presentes, bastando estender a mão para apanhar o objeto de desejo. BB não só virou Paris de ponta-cabeça. Foi o exemplo da jovem que deixa de lado as outras mulheres chatinhas para ir brincar com os rapazes na esquina.