Mão-de-obra no setor da construção civil virou artigo de luxo. Nas agências de empregos, sobram vagas. Nos canteiros de obras, trabalham com o uniforme do super-homem, dez ou doze horas por dia, para dar conta do serviço. E a Madame do Batel, o que é o mais grave, não consegue arrumar pedreiro nem para reformar a cobertura do duplex.

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A Madame do Batel está impressionada com a falta de mão-de-obra. Dia desses, ela contou ao seu arquiteto que está sentindo falta do encanador faz-tudo de Santa Felicidade.

O menino era uma maravilha, dizia a Madame:

 – É um italianinho jovem, bonito e bem simpático. Eu o chamava para arrumar a descarga do banheiro, trocar o trinco da porta e o pneu furado, inclusive. Até ia a Caiobá pintar o quarto da empregada e consertar a calçada da minha casa de praia. Nos últimos tempos, o rapaz deu para reclamar da agenda. Isso mesmo, da agenda apertada. Além do serviço normal, estava fazendo um curso de especialização à noite e, às seis da manhã, já estava no batente.

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O arquiteto da Madame elogiou o esforço do italianinho para se aperfeiçoar, e também reclamou:

 – Num pequeno prédio de apartamentos que projetei aqui no nosso litoral, a construtora não sabe mais o que fazer com a falta de mão-de-obra. O engenheiro atrasou dois meses o cronograma. Estão no limite, o pessoal disponível na construção civil está plenamente empregado.

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 A Madame do Batel respirou fundo e continuou:

 – Mas imagina que agora precisei do italianinho para arrumar a coifa da cozinha. Sabe o que ele me disse?

 – Que não podia atender?

 – Disse que o preço não era mais o mesmo. Subiu. O que antes eu pagava 100, agora só aceita de trezentos pra cima. Um absurdo. Uma visitinha dele é quase o que eu pago por mês para a minha cozinheira.
– E a nova coifa que eu projetei para você, ele veio fazer?

– Veio a peso de ouro! E você não calcula o meu susto quando ele chegou para ver o desenho e tomar as medidas dos canos! Sentou na cozinha, abriu a caixa de ferramentas e, você não vai acreditar, puxou de um laptop branquinho, a coisa mais linda, para fazer os cálculos daquela obrinha no computador. O iPhone dele, juro, nem os meus filhos têm igual!

 – O italianinho falou quando vai terminar a obra?

 – Ele não sabe! Telefonou dizendo que havia sido contratado por uma construtora paulista que está fazendo um edifício inteligente no centro e, de agora em diante, só pode me atender aos sábados e domingos. Por muito favor!

– E agora?

– Agora eu não sei mais nada. Nem sei mais como vou me virar na temporada, em Caiobá. No verão passado as moças faziam fila para arrumar emprego de doméstica. Agora, nós as patroas é que seremos forçadas a entrar na fila para arrumar uma empregada. Estou pensando em passar as férias em Miami. Lá, pelo menos, os encanadores fazem qualquer coisa a preço de banana.