A luz no fim do túnel

Muitos curitibanos de pouca prática ainda acham que o Rio Ivo é uma homenagem ao ex-prefeito Ivo Arzua Pereira. Fez por merecer tal honraria – se é que levar um nome de um córrego assim xexelento é pra se gabar -, pois foi na sua gestão (de 1962 a 1967) que ele começou a ser canalizado. Ou varrido pra baixo do tapete, como preferem os ambientalistas.

Outra obra meritória de Ivo Arzua foi a o alargamento da Rua Marechal Deodoro, projeto tirado do fundo do baú do francês Alfred Agache. Isto numa época em que os nossos jovens arquitetos, já com as manguinhas de fora, estavam retornando de Paris com o propósito de virar Curitiba do avesso. Um deles – então considerado uma sumidade – em 1965 começou a ter ideias lunáticas a respeito de circulação e trânsito.

Entre elas figurava um viaduto inspirado nas histórias em quadrinhos do Flash Gordon, ligando a Praça Tiradentes à Praça Carlos Gomes, área onde a serpente mãe dos congestionamentos depositou o seu primeiro ovo. O projeto do visionário era multiplicador: com ele se eliminaria um gargalo, mas se criariam outros dois: um no começo e outro no fim do congestionamento.

Dizem no cafezinho do IPPUC, onde os velhos arquitetos contam suas lendas aos novatos, que seria daquele arquiteto visionário a proposta de abrir um furo gigantesco no alto da Serra do Mar para, além de ventilar com a brisa marinha o segundo planalto, proporcionar aos curitibanos as maravilhas de uma cidade com vista para o mar. Seria, digamos, um buraco na parede para vislumbrar a Ilha do Mel.

O único obstáculo para abertura de um buraco no morro do Anhangava seria quanto aos Estudos Complementares de Impacto Ambiental (EIA-RIMA), a Via Sacra dos infindáveis órgãos ambientais, as audiências públicas e o acordo para o destino de resíduos da obra, os mesmos entraves que ajudam a fazer do metrô de Curitiba uma obra de ficção científica futurista de Alex Raymond, o autor de Flash Gordon. Com a burocracia o buraco é bem mais embaixo.

Prefeitos cavadores como Ivo Arzua nos fazem muita falta. Abrir a Marechal Floriano foi como abrir um túnel rodoviário sob a Serra do Mar. Quanto ao buraco do metrô, enquanto algum lunático não encontrar o destino para os resíduos do buraco orçamentário da prefeitura, ninguém vai enxergar a luz no fim do túnel.

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