Nadja Naira transpira teatro na pele, na alma e até no nome. Atuante há mais de 20 anos como iluminadora, diretora e atriz (formada pelo Curso Superior de Artes Cênicas da PUC), na semana em que se inicia mais uma edição do Festival de Teatro de Curitiba, com certeza essa brava artista do palco será muito festejada pelo Premio Shell de Teatro do Rio de Janeiro (a principal premiação do teatro brasileiro) de melhor iluminação de 2013.

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No teatro você toca sete instrumentos, do camarim ao proscênio. De onde vem sua formação de iluminadora?

Nadja Naira: Fiz curso superior de artes cênicas na PUC e me formei atriz. Na época o curso oferecia estágio dentro do Teatro Guaíra e eu passei pela produção, sonoplastia, iluminação etc. Através da Nádia Luciani conheci o Beto Bruel e depois o Jorginho de Carvalho e depois tantos outros colegas de profissão e aprendi com todos. Aprendi mais com os técnicos, os parceiros de tantas montagens que sempre toparam minhas propostas, executaram as minhas loucuras, corrigiram as minhas besteiras. A formação não para nunca, aliás, acho que estou precisando de reciclagem. A tecnologia avança muito rápido e não tenho conseguido acompanhar tantas mudanças na área técnica. 

Como você explicaria o sucesso dos profissionais de teatro do Paraná no eixo Rio-São Paulo?

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Nadja: Nos últimos 10 ou 15 anos a circulação das peças das companhias de teatro por todo o Brasil é que explica esse sucesso. A gente circula, mostra o nosso trabalho, conhece gente e começa a trocar experiências. Fazemos trabalhos fora de casa, nos arriscamos em intercâmbios e vamos nos misturando com outros grupos. Não somos melhores ou piores, somos outros nomes, profissionais com outras características estéticas, temos outra formação, trabalhamos com outros recursos. Isso causa curiosidade nos grupos, produtores e diretores de outras cidades. Aqui em Curitiba nosso sol vive escondido atrás das nuvens e, no Rio, você consegue ver nuvens. Em São Paulo, você consegue ver o sol ou o céu.

Em que fonte a classe teatral de Curitiba bebeu no passado?

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Nadja: Curitiba talvez seja nosso lugar de exílio. Aqui dialogamos entre nós, conversas acaloradas, indignadas, cínicas. Alguns mais corajosos ou loucos escapam, passam o Trevo do Atuba ou decolam do Afonso Pena (quando tem teto), mas voltam saudosos, sempre voltam para nossos pequenos duelos diários. Bebemos na literatura, no jornalismo, na arquitetura, na música, na dança. Bebemos muito chope no Bar do Alemão e agora estamos tentando voltar a beber no Passeio Público. Bebemos no estrangeiro, nas nossas origens. Mas bêbados continuamos fazendo xixi nos paralelepípedos do Largo da Ordem. 

 – De onde essa paixão pelo palco?

Nadja: Difícil identificar a origem da escolha por esta forma de expressão, por esta profissão do palco. Faço teatro desde sempre, há mais de 20 anos, e só sei fazer isso. Pode ser atrás ou na frente da cortina, não importa, o processo todo me instiga, me provoca. Quando começo a me repetir na iluminação posso mudar pra atuação, pra produção e depois pra iluminação de novo e depois pra dramaturgia. O teatro é um ambiente muito amplo, muito completo, onde precisamos estar atentos, alertas, dispostos e disponíveis.

Que peso tem o Festival de Teatro de Curitiba?

Nadja: O Festival de Curitiba provoca um grande movimento na cidade e isso é pra mim a sua característica mais importante. Podemos questionar as escolhas da curadoria, os eventos paralelos, mas não podemos ignorar o ar de renovação que o Festival injeta na cidade todo ano. Já o Fringe parece confuso, sem curadoria, desorganizado, mas esta forma livre, pulsante, veloz de se fazer um festival de arte reflete os nossos dias. O Festival é, sim, uma grande vitrine e todos nós queremos estar lá, ver tudo e ser vistos por todos.