A lista de Lombroso

A cerimônia de beatificação do deputado Natan Donadon serviu para mostrar que o Congresso Nacional seria um perfeito campo de pesquisas para o médico italiano Cesare Lombroso, célebre estudioso de delinquentes e anormais, incluindo os idiotas, os corcundas e os artistas.

Em 1881, Lombroso estudou os músicos e sua distribuição geográfica em relação aos vulcões e os terrenos vulcânicos. Resultou, da bizarra pesquisa, que na Itália existiam exatamente 1210 músicos; na Alemanha, 650; e na França, 405. Por último a Holanda, com um mísero músico. Também na pintura Lombroso pesquisou a relação da arte com a natureza vulcânica.

Na estatística lombrosiana, os fenômenos da natureza têm enorme influência nos impulsos artísticos e, principalmente, em todas as expressões criminais. O número máximo de atos violentos (assim como também de fortes inspirações poéticas e artísticas) teve lugar próximo do primeiro quarto da Lua, quando há também turbulências e tempestades. A Lua cheia, com tempo sereno, tem influência no impulso a fugir rapidamente da estupidez. 

Para Lombroso, os últimos quartos de Lua deixam os criminosos e os artistas mais razoáveis e humanos, mais inclinados à delação e à 
reflexão. Além disso, ao pesquisar a influência do clima no comportamento criminal, Lombroso registrou que um ladrão se punha a blasfemar horrivelmente poucas horas antes que soprasse o vento. E se com o vento vinha chuva e tormenta, as blasfêmias tornavam-se ainda mais infames e obscenas, chegando a uma escala graduada surpreendente que anunciava o dilúvio.

Com suas bizarrices estatísticas, Lombroso também ficou célebre por haver iniciado a medição e pesagem da criminalidade: eram leves os réus por roubo e assalto, com 61 quilos; magérrimos os violadores, com 57 quilos; assaltantes e homicidas apresentam boa estatura e saúde robusta, enquanto os falsificadores e os estupradores mais delgados eram em maior quantidade. Nos casos de estupro, falsificação e incêndio, metade deles foi cometida por corcundas. O que explicaria, segundo Lombroso, o preconceito popular em relação a esses indivíduos portadores da corcova dorsal, acusando-os de malícia e luxúria. E o Corcunda de Notre Dame é o mais célebre exemplo.

Certa feita Cesare Lombroso foi à Rússia para trocar ideias com o escritor Leon Tolstoi e, eventualmente, estudá-lo. Porém, Leon Tolstoi não o recebeu, alegando que suas ideias eram teorias de um perfeito idiota. Lombroso ficou ofendidíssimo; e desafiou Tolstoi a que o provasse estatisticamente. Nunca obteve resposta.

Se as teorias do perfeito idiota fossem aplicadas no Brasil, a lista de Lombroso seria interminável. Começaria pelos delinquentes políticos e terminaria com a máfia de branco, médicos que agora conspiram contra a saúde da nação.