À lápis, um raro retrato

Certas residências de Curitiba escondem cenários surpreendentes. Vizinhos de rua, o jurista René Dotti tem em casa um teatro para rememorar os seus tempos de ator e, quase ao lado, o empresário Marlus Coelho montou um completo estúdio para receber no palco os melhores músicos da cidade.

Na noite de segunda-feira passada, a casa/show de Marlus Coelho, músico de horas vagas e noturnas, abriu suas cortinas para um lançamento duplo: o CD e DVD À lápis – Um tributo a Palminor Rodrigues Ferreira, o Lápis. A ?boate? particular de Marlus lembrava uma roda de samba do finado Bar do Leleco, de onde, na década de 70, o compositor Lápis partia com sua turma para findar a noite no Bactuc, o inesquecível bar da Alameda Cabral, do músico e geólogo Dalton Contin e Luizinho Stinghel.

Proprietário da Esteio Engenharia, Marlus Coelho e esposa faziam as honras da casa, enquanto Dalton Contin e Jazomar Rocha, no cavaquinho, recebiam os convidados com Violão sem dó, composição de Lápis e JC Miceli.

No pandeiro, tamborim e apitos, Fernando Loko; Saul Trumpet; Jeff Sabag no piano, Jonas Cella no baixo; João Charmack na bateria, Rubens Holsmann e Gérson Bientinez no violão; Nélson Damiani no saxofone e Luciana Sicupira Arzua no surdo; vozes de Rubem Rolim (também no violão), Galdino Junior, Anadir Salles, Dalton Contin, Fernando Loko, KK Buono, e Jazomar e Priscila Rocha (pai e filha).

Numa noite como poucas, Marlus Coelho conseguiu reunir em torno do generoso bar de sua bela casa no Jardim Social os remanescentes do lendário Bitten 04, o quarteto de Lápis: Dalton Contin no violão, Lápis no cavaquinho, Fernando Loko no atabaque, e Anadir Salles no agogô.

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O compositor e publicitário Paulo Vítola não estava presente. Presente estava na apresentação do CD, com um texto que explica a razão do encontro:

?Ainda bem que o Jazomar e o Galdino tiveram a idéia de realizar este projeto. Agora quem só contava com aquela fita cassete, distribuída pela Fundação Cultural de Curitiba em 1982, para conhecer a obra de Palminor Rodrigues Ferreira, o Lápis, ou mesmo para dela se lembrar, tem nesse CD uma primeira coletânea de suas canções, gravada com cuidado profissional. Para quem não sabe, muitas músicas desse artista, que dominou a noite curitibana no período de 1960-1970, foram esparsamente gravadas. (…) Agora, no entanto, temos a oportunidade de ver, pela primeira vez, uma parte importante do trabalho de Lápis reunida neste CD. Tenho o privilégio de poder ouvir cada uma dessas canções, lembrando nitidamente do timbre da voz e da sonoridade do violão com que o autor costumava iluminar nossos encontros. Se para mim, que fui amigo e parceiro de Lápis, este CD chega com um gosto de saudade, para você, que sequer o conheceu, espero que chegue com o doce sabor das melhores surpresas.?

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Palminor Rodrigues Ferreira tem 120 composições registradas. Treze delas estão neste À Lápis que, infelizmente, não está à venda. Foram feitas apenas mil cópias, todas dirigidas para bibliotecas e escolas. Para conhecer de perto o Violão sem dó do nosso Lápis, só no Quintal da Goiabeira (Rua Padre Feijó, 90), o endereço musical de Jazomar Rocha (41- 9949 7278).