O Bar do Popadiuk está em polvorosa. Com as calças na mão, digamos assim. Tudo porque o que o governo do Estado de São Paulo, que negou durante meses o racionamento de água, finalmente admitiu: não vai ter água na torneira para todo mundo. O banho de chuveiro está com os dias contados, não vai dar mais para lavar a louça no mesmo dia do banho dos cachorros. E quem fizer questão de água em abundância, vai ter que vir morar em Curitiba.

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– A invasão paulista vai começar pelo Rio Atuba! – alerta do balcão o engenheiro hídrico funcionário da Sanepar. – Pra quem não sabe, o Atuba faz parte da bacia do Alto Iguaçu e corre entre as divisas de Curitiba, Colombo e Pinhais. Da sua conjunção com o Rio Iraí forma o Rio Iguaçu e por sua localização estratégica seria por onde os paulistas invadiriam o Paraná em busca das águas do Aquífero Karst, que abastece com seus 5.740 km² o norte da Região Metropolitana de Curitiba, além de Castro e Ponta Grossa.

No Bar do Popadiuk, como já se disse aqui, se a cerveja (piwo) vier quente e o bolinho de carne à moda da casa (zrazy) estupidamente gelado, algo há de errado. Se for o caso, o polaco Stacho dá duas longas guaribadas no bigode em reflexão (em Curitiba até os espelhos pensam duas vezes antes de refletir a verdade) e sapeca seu abalizado parecer:

– Estamos correndo sério perigo! Curitiba é hoje praticamente um bairro de São Paulo e o Atuba é o rio mais próximo do Tietê. Com água suficiente pra abastecer até o Lava Jato da Polícia Federal, Curitiba está correndo o risco de se transformar numa cidade dormitório de São Paulo. E as bordas da Serra do Mar vão se transformar em condomínios fechados onde virão morar os endinheirados do Morumbi e dos Jardins.

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– O problema é que certos curitibanos, com complexo de vira-lata, não se cansam de imitar tudo o que acontece em São Paulo! – ensina o engenheiro hídrico – É o caso dos rios do centro de Curitiba, praticamente extintos. Nos tempos das vacas gordas da Cantareira, o que São Paulo fez diante da abundância de chuva e de água? Em vez de proteger os mananciais, colocou os rios embaixo do asfalto. A arrogância paulista, aliada aos eleitores de Paulo Maluf, deu no que deu.

– Segundo Eloi Zanetti, se o Rio Grande, que separa os Estados Unidos do resto da América Latina, faz a cisão entre ricos e pobres, o Rio Atuba faz a fronteira entre Curitiba e o resto do mundo! – acrescenta o artista plástico Sérgio Kirdziej, professor de pintura da Escola de Belas Artes.

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– Se os paulistas atravessarem o Rio Atuba, Curitiba volta a ser a 5.ª Comarca de São Paulo. Foi nas margens do Atuba que se deu o início da colonização de Curitiba. Vamos erguer barricadas aqui no Popadiuk! – subiu na mesa o embravecido Stacho – Se os paulistas quiserem beber das águas do Parque Barigui, só passando por cima do Bigorrilho!