Segundo contou um sabiá da Rua Bom Jesus (endereço do IPPUC), a prefeitura está desenvolvendo um projeto para retirar a Rua Saldanha Marinho do caos em que se encontra. Só não se sabe o tempo que ainda vamos esperar para sair do papel, pelo menos, uma quadra da rua com as calçadas mais traiçoeiras da cidade.

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Como justificativa pela demora, a prefeitura até pode alegar dificuldades técnicas, que a indústria automobilística tem prioridade na economia nacional, ou que forças ocultas acham melhor deixar tudo como está para ver como é que fica. Se for assim, se é soberana a indecisão quanto ao que precisa ser feito, por que não experimentar para ver como é que fica?

Mirem-se no exemplo de Copenhague. Numa fase experimental de três meses, uma avenida de 14,3 km de extensão foi fechada para viaturas privadas. A boa notícia veio do blog português “Menos Um Carro” (pela mobilidade sustentável, pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas): “A maior artéria de Copenhague foi fechada ao trânsito de automóveis particulares, passando a ser exclusiva a bicicletas e transportes públicos. O projeto está em fase experimental e vai durar três meses. A iniciativa pretende resolver os crescentes problemas de trânsito em Copenhague. Num mundo globalizado, é cada vez mais importante para a cidade atrair residentes, investimentos, eventos e turistas e para isso Copenhague continua a oferecer qualidade de vida e oportunidades, bem como um ambiente seguro e saudável para todos os que quiserem aqui morar”.

“Modus in rebus”: a expressão latina é do poeta Horácio, em que ele adverte contra os excessos e recomenda a moderação. Com limites, uma justa medida em todas as coisas. Em Curitiba, os automóveis já passaram dos limites. E se existem certos limites para tudo, porque não delimitar a Saldanha Marinho para o tráfego (e não ao tráfico) de bicicletas e pedestres?

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Descendo o Largo da Ordem, largando da Catedral Metropolitana, uma caminhada pela Saldanha Marinho, ao encontro da Praça Espanha, seria uma alternativa prazerosa à congestionada Rua das Flores. Nem tanto ao céu nem tanto à terra, dando um passo à frente Curitiba poderia acabar com as calçadas da Saldanha Marinho, proibir o estacionamento de automóveis e fazer dela uma via a ser compartilhada entre veículos de moradores, viaturas de serviço, ciclistas e, preferencialmente, os pedestres.

A rua é um espaço urbano muito importante para ter a função de guardar automóveis. Nada temos a perder, senão os mercadores da miséria, o meio-fio, o paralelepípedo e as calçadas traiçoeiras que atravancam os passos à frente desta cidade.

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Não custa, pelo menos, tentar. Desde já, os bípedes agradecem a atenção dispensada.