A inesquecível Operação Tabajara

Escrevi o texto abaixo em setembro de 2006, com Geraldo Alckmin tentando defenestrar Luiz Inácio da Silva da Presidência da República.

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Fernando Henrique Cardoso, Jorge Bornhausen, Tasso Jereissati e uma garrafa de uísque Red Label formavam o que se poderia chamar de uma natureza morta, naquele fim de tarde no apartamento do ex-presidente. Com a desolação refletindo em seus olhos azuis, Jorge Bornhausen quebrou sepulcral silêncio olhando para os números das últimas pesquisas.

– Perdemos. A não ser que alguém tenha alguma jogada milagrosa para reverter o placar e levar o jogo para a prorrogação.

– Impossível, o chuchu (Alckmin) não tem fôlego! – respondeu FHC.
Olhando o gelo no fundo do copo, Tasso Jereissati murmurou:

– A única jogada milagrosa, nessa altura do campeonato, é o time do Lula fazer algum gol contra. Eles são especialistas em chutar contra as próprias redes. Só o PT é capaz de derrotar o Lula.

– Tasso, você é um iluminado! – levantou a voz FHC – Essa é a jogada milagrosa para levar o jogo à prorrogação. Só nos basta rolar a bola para o PT chutar contra as próprias redes!

– Explica melhor, Fernando!

– Elementar, meu caro Bornhausen! Você entende de pescaria, basta jogar uma isca e puxar a tarrafa com os petistas dentro. Acompanhem o meu raciocínio – pediu o professor da Sorbonne. O brasileiro tem memória fraca. O único escândalo que ainda está na boca do povo, por ser muito recente, é a falcatrua dos sanguessugas. Um lamaçal que pode respingar em todos nós, percebem? Especialmente no Zé Serra. E quem poderia ter munição para derrubar o nosso ex-ministro da Saúde? Não vamos nos esquecer: o PT paulista admite até perder a Presidência da República, nunca o Governo de São Paulo. O objetivo da caça está em Brasília, armas e munições estão em São Paulo e a arapuca será armada em Cuiabá. Esse é o plano.

– Percebi! – retrucou Jereissati – A arapuca é Luiz Antônio Vedoin, o chefe da máfia da saúde. Só ele poderia fornecer provas que possam ligar Zé Serra aos sanguessugas. Se os petistas souberem que Darci e Luiz Vedoin têm em mãos documentos que revelem o comprometimento dos tucanos, eles fazem qualquer negócio para virar o jogo em São Paulo.

– Bingo! Primeiro passo: é preciso chegar aos ouvidos de Vedoin que, se ele possuir algumas fotos do Zé Serra entregando ambulâncias, o PT pagaria uma fortuna por elas. Segundo passo: os petistas precisam ficar sabendo que Vedoin botou à venda um álbum de fotografias por dois milhões de reais, mas aceita contraproposta. Terceiro passo: soprar aos ouvidos – que são eletrônicos – da Polícia Federal que uma negociação escabrosa se desenrola entre a família Vedoin e a coordenação nacional da campanha do Lula.

– Até aí tudo bem – retrucou Tasso Jereissati – Mas será que os petistas são tão burros para acreditar nesse conto do vigário?

– Caro Tasso, você está superestimando a inteligência deles. Eles são mais que burros, e te dou vinte nomes da cúpula petista que dão milho para bicicleta.

– Só resta um pequeno detalhe, nessa Operação Tabajara: onde esses trapalhões vão arrumar dois milhões de reais para comprar as quinquilharias do Vedoin? – perguntou Jereissati, sem conter uma sonora gargalhada.

FHC, Jereissati e Bornhausen estão gargalhando até agora.

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Sabe-se agora, as gargalhadas tinham lá os seus bons motivos: só o Lula não sabia que alguns monstros se agigantavam nos subterrâneos das estatais, principalmente na Petrobrás.